Educação vincula escolas ao território e renova práticas pedagógicas
Todo ano, no início dos semestres letivos, as escolas da rede municipal de Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre (RS) – 53 EMEFs e 34 EMEIs, compreendendo um total de 24 mil alunos – produzem uma pesquisa sócio-antropológica sobre o território em que estão inseridas, oferecendo uma oportunidade para estudantes e professores saírem da escola e conhecerem o bairro onde vivem e estudam. “Não apenas conhecer”, pontua Roseli Michel, coordenadora do Programa Mais Educação (ME) na cidade gaúcha – mas criar um sentimento de pertencimento local e, principalmente, “vislumbrar possibilidades de trabalho” no território. Realizada antes de o ME se estabelecer em Novo Hamburgo, em 2008, a prática ajudou tanto as instituições de ensino como os equipamentos esportivos, culturais, educativos e de lazer da cidade. “Na verdade, a escola não é do diretor ou do professor – é do bairro, da comunidade. A partir do momento em que a comunidade entra na escola e mostra seu conhecimento e as escolas saem de seus muros para ver o que o bairro tem a oferecer, aí sim alcançaremos os principais objetivos da educação”, ressalta Michel. No bairro Primavera, alunos contemplados pelo ME da EMEF José Bonifácio (cerca de 100 de um total de 360) realizam atividades educativas em um ginásio de esportes e uma quadra de escola de samba. “Quando a escola aderiu ao programa, em 2008, percebeu que ela não tinha espaço de qualidade para atender os alunos do turno integral. Aos poucos foi aparecendo a possibilidade de valorizar a cultura local do bairro”, relata Maíra Bisol, coordenadora do ME na José Bonifácio. Todas as quartas-feiras, no período matutino e vespertino, as crianças saem da escola acompanhadas por professores e monitores e descem a rua Osvaldo Cruz em direção ao Ginásio de Esportes Vila Marte. Lá, têm uma hora e meia de aula de futebol de salão, onde meninos e meninas brincam e se divertem juntos. “Agora o bairro já entende que a escola está passando por ali, e que toda quarta-feira os alunos estão nas ruas”, observa Bisol, lembrando que no início do projeto foram feitas faixas especiais para o cruzamento das crianças nas ruas, hoje desnecessárias. Após o ginásio, a turma volta para a rua e segue até a Escola de Samba Cruzeiro do Sul, conhecida como Cruzeirinho, e que acaba de completar 93 anos de existência. Ali, o mestre de baterias da escola – a maior campeã do carnaval hamburguense – dá aulas de percussão e noção rítmica para os alunos. “Antes, havia aula de percussão na escola, mas o barulho dos ensaios atrapalhava algumas professoras”, afirma Bisol. “Cedemos todos os nossos instrumentos para a escola de samba, que também estava com problemas financeiros, e treinamos ali tranquilamente.” A escola possui ainda uma parceria com a Fundação Liberato, referência em ciência e tecnologia, onde alunos têm aulas de robótica – eles apresentaram seus robôs na Mostratec 2015. “Por que as crianças não podem ter acesso a esses equipamentos do bairro? Estimulando isso, aumentamos a visão do mundo deles – e a nossa própria também”, acredita. Para ela, a escola deve agir como um valorizador da comunidade. Citou como exemplo da parceria escola e comunidade a criação de um sarau mensal na sede da Cruzeirinho, que reúne alunos da José Bonifácio e seus familiares com os moradores do entorno da escola de samba, reduto da cultura afro no estado do Rio Grande do Sul.
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