Educadores defendem diversificação de conteúdo a ser ensinado
O documento preliminar da Base Nacional Comum Curricular, em apreciação no MEC, trata do conteúdo básico que deve ser ensinado nas escolas, como português e matemática, mas não mergulha em um ponto importante, de acordo com educadores: o ensino integral.
A expressão "ensino integral" se refere à proposta de reorganização do tempo, do espaço escolar e dos conteúdos ensinados com o objetivo de promover o desenvolvimento pleno do aluno.
Vista como benéfica pela maioria dos educadores, a modalidade vem crescendo de maneira rápida no Brasil.
Dados do censo escolar mostram que o número de matrículas na modalidade integral em escolas públicas e privadas mais do que triplicou no país em quatro anos. Passou de 464.033 alunos em 2010 para 1.738.645 em 2014.
Mas não basta ampliar a carga horária e aumentar a quantidade do que já é ensinado. É preciso diversificar.
"Não adianta ter mais tempo de aula e dar mais do mesmo. Não tem apelo junto aos estudantes, que percebem isso e abandonam a escola", diz Patrícia Mota, da Itaú Social.
"Se o ensino integral for pensado para oferecer mais do mesmo está fadado ao fracasso", completa.
Especialistas defendem que o tempo extra seja usado também para desenvolver as chamadas "habilidades não cognitivas" dos alunos, como a criatividade. Isso pode ser feito, por exemplo, com aulas de músicas e de artes.
"Se não tratar de ensino integral, a base curricular já nasce obsoleta", opina Anna Penido, do Inspirare, lembrando que o documento preliminar passa por esse tema apenas na sua introdução.
Mais tempo na escola sem qualidade e sem currículo estruturado, no entanto, também não resolvem.
"Ensino de tempo integral não trará nenhuma vantagem de conhecimento e vai escassear recursos já escassos.
Evidências não mostram que isso necessariamente melhora o desempenho", opina o presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista.
Para ele, é preciso repensar outros gargalos da educação antes de se investir em ensino integral. "Não é uma coisa que vá fazer mal, mas no Brasil, como andam as coisas, pode piorar pela ineficiência da gestão."
Patrícia Mota diz que toda essa discussão tem como alvo a questão da redução da desigualdade de condições.
"Essa desigualdade que começa já na creche, quando o pai que pode pagar coloca o filho em uma instituição melhor."