Escola em SP cria novas formas de estimular os alunos
Em 2005 a Escola Estadual Francisco Roswell Freire, no Grajaú, periferia da zona Sul de São Paulo, era a 7ª pior instituição de ensino segundo avaliação da Saresp, prova que avalia a educação básica em todo o estado. Naquele mesmo ano, Elaine Cristina Simões Brandão, a Nany, assumia a direção do colégio, que atende 759 alunos de ensino fundamental (1ª a 8ª série), em idade média entre 6 e 14 anos. Dez anos depois, a escola reduziu as taxas de abandono e evolui constantemente nas avaliações de ensino. O segredo, conta Nany, é o cuidado humano e o diálogo como principal ferramenta. "Aqui a gente resolve tudo juntos", conta a diretora. Não há nenhuma diferença na grade curricular. Assim como em outras escolas, os alunos também têm aulas de matemática, português, história, etc. A grande inovação foi dividir o horário das disciplinas em blocos, e não mais aulas com duração de 50 minutos como normalmente acontece. Por exemplo: se de acordo com o cronograma o professor de matemática tem que dar 20 aulas em um bimestre, ele dará todas essas aulas durante 5 dias seguidos. Na semana seguinte, o aluno só terá aulas de português e assim por diante. Tudo é feito com autorização da Secretaria Estadual da Educação, já que as diretrizes gerais são seguidas. "Com isso, ganhamos muita reflexão. As aulas têm começo, meio e fim. Na grade pulverizada, quando o professor começa a conquistar a atenção do menino, já está na hora de ir embora. Aqui o professor consegue saber quem é o aluno, os problemas dele e até da família. Porque tem tempo para conviver e desenvolver uma relação com a criança", explica Nany. Uma outra diferença na escola é em relação ao cálculo das notas. Elas não dizem respeito apenas ao aprendizado das matérias: os estudantes também são avaliados pelo comportamento, além da frequência escolar e da realização das atividades propostas pelos professores. "O que nos difere das demais escolas é a formação integral. Para nós, não adianta conhecimento sem humanidade. Muita gente intelectualmente bem-resolvida faz bobagem", diz Nany. Normalmente, nos conselhos de classe dos colégios só participam professores e direção. Mas na Roswell Freire os alunos também são convidados a participar para que, juntos, possam discutir o desempenho e o comportamento de cada um. Caso não concorde com a avaliação feita pelo corpo docente, o aluno pode se manifestar ali mesmo. Já nas reuniões de pais, são os próprios estudantes que apresentam para seus responsáveis o que aprenderam naquele bimestre. A ideia é que, dessa forma, eles assimilem o conteúdo mais facilmente. Os procedimentos da escola são elogiados pela professora de Educação da UERJ, a pedagoga Mirian Paúra. "De antemão, estou admirada pelo projeto. Educação é um trabalho que não deve ser feito apenas por professores e direção, mas também por alunos, pais e por toda a comunidade. Me parece que a preocupação dessa escola, além da formação teórica, é a de formar cidadãos. Por ser uma escola pública está ainda mais de parabéns. Tomara que sirva de exemplo para todas as outras". A mudança é traduzida em resultados concretos: na Saresp a nota da escola evoluiu de 1,79 em 2007 (quando a média do estado era de 2,6) para 2,6 em 2013 (média de 2,5). Já na Prova Brasil, elaborada pelo Ministério da Educação (MEC), a nota foi de 3,2 em 2007 (quando a média nacional era de 3,8) para 4,5 em 2013 (média de 4,2). Alunos e professores também aprovam as mudanças. "Aqui os professores, além de ensinarem, se importam conosco. Quando trago um problema sei que vou ser ajudado. É como se fosse um refúgio. São as melhores cinco horas do dia", diz o aluno Eric, de 16 anos, aluno da 8ª série. A professora de português Bete Andrade, que também leciona em outra escola, diz que as diferenças entre ambas são notáveis. "Eu não consigo atender o currículo na escola pulverizada e aqui eu consigo. Justamente porque aqui dá para trabalhar de maneira mais aprofundada". Para Nany, a principal contribuição da escola para com os alunos é a de mostrar que eles têm escolhas. "A ideia é fazer a diferença na vida desses meninos. Estamos no Grajaú, onde a taxa de homicídios é muito alta, principalmente de jovens. Queremos que eles percebam que têm talento, que podem seguir o caminho que quiserem".