Estudo aponta danos na educação e de crianças e adolescentes em cidades Ceará
Um estudo feito pela Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (APDMCE) constatou ausência da implementação de políticas públicas de saúde, educação e assistência social em meio à pandemia do novo coronavírus. O levantamento foi realizado entre os dias 31 de março e 5 de abril, reunindo 75 gestores públicos e técnicos. Dos 184 municípios cearenses, apenas 71 responderam à pesquisa.
Conforme os resultados, apenas 38% dos representantes municipais declararam que "está havendo algum acompanhamento de crianças e adolescentes em risco de abandono escolar" durante a quarentena.
De acordo com a presidente da APDMCE, Sônia Fortaleza Pinheiro, embora as cidades estivessem "avançando na busca ativa escolar", que monitora alunos fora da sala de aula, elas atualmente enfrentam dificuldades para reverter o problema. Como consequência, ela aponta o distanciamento efetivo dos estudantes.
"A possibilidade de evasão escolar nos preocupa muito, porque o aluno está em isolamento, mas a medida que as atividades forem sendo retomadas, não sabemos se essa criança vai retornar, e muitas delas podem se deslocar para outros locais com a família e dificulta a nossa pescaria, o trazer de volta para a escola", explica.
Para Sônia, é necessária atenção "técnica, profissional e emocional" em ação conjunta da gestão pública. “Os professores e o núcleo gestor precisam continuar mantendo o vínculo junto com as agentes de saúde que são nossas porta-vozes nas casas de cada cidadão, ficar atento a cada família”.
O Ceará é um dos estados mais afetados pela pandemia no Brasil, com 64 óbitos e mais de 1,5 mil pessoas infectadas. Conforme o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, a situação é "extremamente preocupante" no estado.
Assistência
Os efeitos do coronavírus também são registrados na área de proteção aos vulneráveis. Segundo o estudo, 50% declararam a suspensão das atividades do Sistema Único de Assistência Social (Suas) do Ministério do Desenvolvimento; 42,65% afirmaram que as equipes continuam trabalhando em regime de plantão e 39,71% com horário reduzido.
“O que mais nos deixa aflitos é que nós estamos em um ano eleitoral, e qualquer atitude que o gestor municipal venha a tomar de forma assistencialista, o Ministério Público pode interpretar de outra forma, e isso pode deixar gestores questionando se podem ou não tomar essas medidas, como distribuição de cestas básicas para famílias carentes”, pontua.
No campo da saúde, o levantamento apontou que 52% dos representantes afirmaram que foram canceladas consultas para avaliação de crescimento e desenvolvimento (puericultura) por conta da Covid-19. Os atendimento estavam agendados em unidades públicas de saúde.
Na puericultura, além da verificação de peso e estatura dos bebês, as mães têm orientações sobre amamentação, introdução alimentar e prevenção de doenças. Um recurso usado na rede privada para dar continuidade a esse processo é por meio da teleconsulta. Contudo, em caso de indisponibilidade da ferramenta no setor público, a pediatra Vanuza Chagas recomenda a suspensão temporária.
“Se tiver a consciência de que a única forma de conter a pandemia é por meio do isolamento social, realmente tem que pesar o risco-benefício. Tem que observar os casos, se é uma mãe que fez um bom pré-natal, que não teve intercorrências, se a criança teve as primeiras vacinas, a consulta no sistema público poderá ser adiada para benefício da mãe e do bebê, porque são pacientes de risco para o coronavírus”, detalha.
No entanto, equipes do programa de saúde da família podem suprir essa carência, conforme Vanuza Chagas. “Elas são muito atuantes. Então, o que se pode fazer é ir até a casa do bebê das famílias que podem ter mais risco, eu acredito que já esteja sendo feito isso”, pondera. Para aquelas que tiveram o acompanhamento suspenso, a pediatra recomenda que “elas fiquem tranquilas, seguras e tentem seguir o que ouviram na maternidade”.