Contato direto com esgoto ameaça desenvolvimento do cérebro infantil
Em meio ao esgoto que corre a céu aberto na porta de casa, crianças brincam de esconde-esconde e montam até o baba. Mas a diversão de todo dia pode custar muito caro, já que o cenário da brincadeira é, na verdade, nocivo à saúde. "A falta de saneamento básico é um tiro no futuro. Só no ano de 2011, no Brasil, foram registradas 400 mil internações por diarreia. Desse total, 53% foram em crianças de 0 a 5 anos. Essa é a face mais cruel da falta de saneamento", explicou Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil, ontem, em Salvador, durante o segundo seminário da 5ª edição do Fórum Agenda Bahia, realizado pelo CORREIO e pela rádio CBN, que debateu sobre o futuro do saneamento básico no Brasil. De acordo com o professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) José Eli da Veiga, o contato direto de crianças de até cinco anos com esgoto pode afetar o desenvolvimento cerebral. "Uma criança de menos de cinco anos que tenha seguidas diarreias por causa do seu contato com o esgoto danifica o desenvolvimento do cérebro. Até cinco anos, toda energia que o ser humano assimila é para o desenvolvimento do cérebro. Para combater essa diarreia, a energia vai para a doença em vez de desenvolver a cognição". Levantamento do Instituto Trata Brasil indica que as crianças não estão sozinhas nos prejuízos da falta de saneamento básico. "No Brasil, 102 milhões de brasileiros não têm coleta de esgoto, sendo que apenas 38% de todo esgoto gerado no país é tratado. Além disso, 35 milhões dos brasileiros (cerca de 17%) não têm acesso à agua tratada", informa Édison.