3 em cada 10 crianças no Brasil não receberam vacinas que salvam vidas, alerta Unicef
Os últimos anos ilustraram na prática a importância das vacinas para a saúde da população mundial. O exemplo mais recente é a ação dos imunizantes contra a Covid-19, para frear a pandemia e os casos de infecções graves da doença. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unifec) publicou, na última semana de abril, um alerta para o País a respeito da queda na imunização das crianças contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral D1) e poliomielite. Conforme dados do DataSUS, Tecnologia da Informação a Serviço do Sistema Único de Saúde, 3 em cada 10 crianças não receberam vacinas necessárias para protegê-las de doenças potencialmente fatais.
Segundo o comunicado, em apenas três anos houve uma queda de 21,61% dos índices de vacinação Tríplice Viral D1 no Brasil. Em 2019, 93,1% do grupo direcionado para receber o imunizante receberam a dose, percentual que caiu para 71,49% em 2022. Os dados são públicos e pertencem ao DataSUS, Tecnologia da Informação a Serviço do Sistema Único de Saúde.
Números de doses (Tríplice Viral D1) aplicadas no País, por ano:
- Ano de 2018 – 2.643.322 doses
- Ano de 2019 – 2.722.258 doses
- Ano de 2020 – 2.326.409 doses
- Ano de 2021 – 2.072.920 doses
- Ano de 2022 – 145.786 doses
Além disso, a cobertura da vacinação contra poliomielite caiu de 84,2%, em 2019, para 67,7%, em 2021.
Números de doses (Poliomielite) aplicadas no País, por ano:
- Ano de 2018 – 2.555.836 doses
- Ano de 2019 – 2.461.162 doses
- Ano de 2020 – 2.223.861 doses
- Ano de 2021 – 1.968.758doses
- Ano de 2022 – 150.757 doses
A oficial de Saúde do Unicef no Brasil, Stephanie Amaral, conta que na primeira infância, crianças recebem imunização contra, pelo menos, 17 doenças. “O declínio nas taxas de vacinação coloca milhões de crianças e adolescentes em risco de doenças perigosas, e evitáveis”, explica.
Quanto mais crianças não tiverem acesso às vacinas, mais fácil se torna a propagação de doenças. Em nota, a Unicef conta que comunidades que não dispõem da imunização completa de seus habitantes podem promover surtos em diferentes regiões do globo e a volta de doenças erradicadas em diversos países.
“No Brasil, a vacinação de rotina para crianças menores de 5 anos vinha sofrendo quedas desde 2015. E a pandemia certamente contribuiu ainda mais para o agravamento do problema. Para reverter esse cenário, é fundamental fortalecer os programas de imunização e os sistemas de saúde, e incentivar famílias a vacinar as crianças”, complementa Stephanie em material publicado pelo Unicef.
Jean Gough, diretora regional do Unicef para a América Latina e o Caribe, conta em publicação do Fundo, que à medida que os países se recuperam da pandemia, são necessárias ações imediatas para evitar que as taxas de cobertura caiam ainda mais, porque o ressurgimento de surtos de doenças representa um sério risco para toda a sociedade.
“Esta é uma oportunidade para reestruturar a atenção primária à saúde e reforçar a abordagem integral e comunitária que leva vacinas às populações mais vulneráveis. Não podemos perder os esforços das últimas décadas e deixar que doenças perigosas ameacem a vida das crianças”.
Ceará
Quando se trata dos dados estaduais em relação à cobertura vacinal de crianças, com a vacina Tríplice Viral D1, as taxas são positivas. Nos anos de 2018 e 2019, a cobertura vacinal superava as expectativas do Ministério da Saúde, com 111,46% e 103,02%, respectivamente.
Já nos anos seguintes, é possível notar uma baixa de 38,97 pontos percentuais. Em 2020 foram 90,30% da cobertura vacinal, e em 2021 foram 72,49%. Até o dia 5 de maio de 2022, o Ceará vacinou 10,75% das crianças com a primeira dose do imunizante, de acordo com dados do DataSUS.
Números de doses (Tríplice Viral D1) aplicadas no Ceará, por ano:
- Ano de 2018 – 140.540 doses
- Ano de 2019 – 131.655 doses
- Ano de 2020 – 115.405 doses
- Ano de 2021 – 93.643 doses
- Ano de 2022 – 5.347 doses
Em relação à poliomielite e aos dados estaduais, a cobertura vacinal de crianças nos anos de 2018 e 2019, apresentam níveis de excelência, com 111,08% e 93,54%, respectivamente. Assim como no exemplo citado acima, a taxa de vacinação começa a cair. Nos anos seguintes, podemos notar uma baixa de 39,58 pontos percentuais. Em 2020 foram 86,85% da cobertura vacinal, e em 2021 foram 71,50%. Até o dia 5 de maio de 2022, o Ceará vacinou 11,62% do público alvo com a primeira dose do imunizante.
Números de doses (Poliomielite) aplicadas no Ceará, por ano:
- Ano de 2018 – 140.051 doses
- Ano de 2019 – 119.542 doses
- Ano de 2020 – 110.987 doses
- Ano de 2021 – 92.362 doses
- Ano de 2022 – 5.805 doses
Segundo o médico e imunologista Cícero Inácio, nos últimos 2 anos, com a pandemia e o isolamento social, a população ficou mais reclusa e evitou procurar os serviços de saúde. “Bem como o foco dado apenas à Covid-19, por parte dos governos. Teremos com certeza algumas ondas de outras doenças que poderiam ser prevenidas e evitadas com vacinas e/ou medidas preventivas como eliminação de focos de mosquitos”.
* Os dados brasileiros são do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, coletados até dia 5 de maio de 2022.