AM: Professores são treinados para identificar violência nas escolas
As secretarias de Estado de Educação (Seduc) e Municipal de Saúde (Semsa) acrescentaram uma nova responsabilidade em sala de aula. Além das atividades acadêmicas, os professores, gestores escolares, pedagogos, assistentes sociais, também deverão atuar como psicopedagogos para identificar sinais de violência sofrida pelos alunos. Os professores estão sendo treinados para perceber mudanças de comportamento nas crianças e adolescentes e no desempenho do aprendizado. O treinamento também foi oferecido para profissionais de saúde do município.
Conforme a gerente de Programas, Projetos e Atendimento ao Escolar da Seduc, Adriana Boh, o ciclo de formações é uma estratégia para detectar, dentro do ambiente educacional, as várias expressões de violências que existem contra crianças e adolescentes. “As mais frequentes são exploração de trabalho infantil, exploração doméstica, agressão verbal e principalmente exploração sexual, na qual a cidade de Manaus tem registrado altos índices. Os alunos que sofrem quaisquer dessas violências tendem a ser agressivos dentro de sala de aula. É esse ponto que queremos trabalhar”, afirmou Adriana.
A capacitação será direcionada também a psicólogos e técnicos da área da saúde. A primeira fase do curso foi iniciada na escola estadual de tempo Integral Gonçalves Dias, no bairro Dom Pedro, na Zona Centro – Oeste. “ Esse trabalho será continuo. No primeiro momento serão capacitados professores, pedagogos, assistentes sociais e psicólogos, que futuramente, repassarão o conhecimento adquirido a outros funcionários da instituição educacional, como zeladores, porteiros, auxiliares de cozinha, dentre outros”, destacou.
Segundo ela, a outros projetos já vem sendo realizados, para conscientizar sobre a violência infantil. “Essa nova investida com certeza trará bons resultados. Não podemos estimar quantos casos de violência são registrados nas escolas, mas o intuito dessa capacitação é ampliar o conhecimento dos gestores com relação ao gerenciamento desse problema. A ideia, é encaminhar os alunos que sofrem violência para a rede de atendimento e proteção à criança e ao adolescente”, pontuou.
Vítimas reproduzem agressões no ambiente escolar
Durante as palestras ministradas no primeiro dia de capacitação, a psicóloga Talita Neves explicou aos participantes como identificar se um aluno sofre ou não violência no ambiente familiar. Segundo ela, a violência externa faz com que a criança ou adolescente leve para dentro da sala de aula, um mau comportamento ou até mesmo a reprodução das agressões sofridas.
“Esses alunos precisam de atenção especial por partes dos educadores. Pelo comportamento do aluno é possível identificar se ele é vítima de algum tipo de violência, por menor que seja. A falta de respeito com o colega, bullying, agressão verbal e física são as mais praticadas. Infelizmente é muito comum nas escolas. A ideia é que por meio do treinamento, o educador saiba lhe dar com esses tipos de problemas”, comentou.
Em alguns dos exemplos citados pela psicóloga, ela traçou um parecer de como é a exploração doméstica. “ Trata-se da exploração nos trabalhos domésticos. Não há problema no filho ajudar a mãe nos afazeres da casa, como arrumar a própria cama, objetos pessoais, lavar louça, limpar o quintal. Mas quando essa criança passa a tomar de conta de todas as responsabilidades de uma casa, isso se torna uma violência. Em alguns casos, além de cuidar dos afazeres domésticos a criança ainda se responsabiliza por irmãos menores. Certamente isso lhe prejudicará dentro do ambiente escolar”, alertou.
Para o professor de Educação Física, Dalmir Salazar, é importante participar do processo de capacitação, por facilitar as demandas acadêmicas. “ Vai ser fundamental esse conhecimento. Existem educadores que ainda possuem dificuldades em lidar com o comportamento de alunos agressivos. Essas atitudes são reflexos do que o estudante vivencia em casa. É preciso reparar”, observou Salazar.