Após desmonte, defesa dos direitos da criança e do adolescente ganha fôlego
A defesa dos direitos da infância e juventude ganhou novo fôlego com a posse dos novos integrantes do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), ontem (14). Os 18 conselheiros indicados por organizações sociais e 18 representantes do governo federal representam a retomada de uma política em franco desmonte e enfraquecimento nos últimos quatro anos.
Até o fim de 2024, eles terão muito o que fazer. Terão de elaborar e fiscalizar o cumprimento das normas gerais da política nacional de atendimento dos direitos infantojuvenis. E também apoiar os conselhos estaduais e municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e pela promoção de campanhas públicas de interesse do segmento.
O desafio é grande. Relatório do subgrupo técnico sobre Criança e Adolescente do gabinete de transição mostra que a fome, a violência sexual e a morte aumentaram nessa faixa etária no governo de Jair Bolsonaro (PL). Um retrocesso nunca antes documentado nas condições de vida e na garantia de direitos, sobretudo em crianças e adolescentes negros, indígenas e com deficiência, “vítimas de violência e em situação de rua, de trabalho infantil, entre outras formas de vulnerabilidades”, segundo trecho do documento.
Logo no início de seu governo, em 2019, o então presidente alterou a composição e o funcionamento de vários conselhos gestores de políticas públicas. isso quando não extinguiu, como fez com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea).
Desmonte na proteção a crianças e adolescentes
“A gestão anterior quase extinguiu o Conanda por meio de um decreto com o qual o colegiado foi reduzido a praticamente nada. Atacaram a participação social, ponto mais importante, mas não só. Com isso, abalaram também a transparência, um dos motivos da existência dos colegiados”, acrescentou o ministro, afirmando que a decisão de 2021, do STF, freou a “deturpação no uso do colegiado”, disse o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, durante a cerimônia.
A pasta que comanda, segundo assegurou, está trabalhando para revogar plenamente o Decreto 10.003/2019, assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro, para restabelecer a antiga composição do conselho. E assim ampliar a participação da sociedade e do próprio governo.
Pelo decreto foram extintos cargos técnicos e bloqueou recursos financeiros. Sem dinheiro, foi adiada a primeira reunião, prevista para fevereiro daquele ano. O mesmo aconteceu com a 11ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. O evento que estava na agenda de outubro de 2019 só ocorreu em novembro de 2020, mesmo assim de maneira virtual, devido à pandemia.
Em setembro de 2019, Bolsonaro baixou um decreto que reduziu de 56 para 36 o número de conselheiros no colegiado. A medida ainda destituiu os representantes da sociedade civil eleitos para o biênio 2019/2020 mesmo antes do término dos respectivos mandatos.
Conanda é principal órgão de garantia do ECA
Pelo seu caráter autoritário, o decreto ainda deu ao presidente da República a atribuição de escolher o presidente do colegiado, que passou a contar com o voto de minerva em caso de empate nas decisões. Para completar, alterou a frequência das reuniões do conselho. De mensais passaram para trimestrais. E vetou a participação presencial de conselheiros de fora do Distrito Federal.
Organizações que atuam no segmento recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar o decreto, “marcado por ilegalidades e inconstitucionalidades” segundo avaliação de representantes do Ministério Público Federal (MPF). Havia, segundo eles, a “evidente intenção de reduzir o caráter democrático do conselho, fragilizando sua capacidade de cumprir suas funções constitucionais”.
O relator do processo no STF, ministro Luis Roberto Barroso, atendeu parcialmente o pedido em 2021. Declarou inconstitucionais trechos do decreto, restabeleceu as reuniões mensais e presenciais e a escolha do presidente do órgão pelo próprio colegiado. Mas manteve a redução do número de conselheiros, a proibição da reeleição de representantes da sociedade civil e a possibilidade de o presidente do órgão votar para desempatar qualquer discussão.
Criado em outubro de 1991, por meio da Lei 8.242, o Conanda é o principal órgão do sistema de garantia dos direitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Entidades com participação no Conanda:
- Coletivo Mães na Luta;
- Movimento Nacional de Direitos Humanos;
- Central de Educação e Cultura Popular;
- Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag);
- Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
- Federação Nacional das Associações Pestalozzi.
- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB);
- Central Única dos Trabalhadores (CUT);
- Conselho Federal de Psicologia;
- Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares;
- Fundação Abrinq;
- Inspetoria São João Bosco;
- Federação Brasileira de Associações Socioeducativas de Adolescentes;
- Associação de Pesquisadores e Formadores da Área da Criança e do Adolescente;
- Instituto Fazendo História;
- Aldeias Infantis SOS Brasil;
- Instituto Alana
- União dos Escoteiros do Brasil
Pelo governo federal, participam representantes dos seguintes ministérios:
- Direitos Humanos e Cidadania;
- Educação;
- Saúde;
- Trabalho e Emprego;
- Previdência Social;
- Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome;
- Justiça e Segurança Pública
- Fazenda