Auxílio emergencial tirou 5,6 milhões de crianças da extrema pobreza

Veículo: Exame - BR
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A distribuição do auxílio emergencial de 600 reais durante a pandemia do novo coronavírus impediu que 5,6 milhões de crianças (de zero a 13 anos) entrassem na estatística da extrema pobreza no país, segundo análise do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

A simulação, feita pelo pesquisador Daniel Duque com base em microdados da Pnad-covid-19 do IBGE, mostra que no mês de maio 2,27 milhões de crianças viviam abaixo da linha da pobreza, o que representa 5,5% do total de pessoas dessa faixa etária.

Atualmente, é considerado em extrema pobreza aquele com renda domiciliar per capita de 1,90 dólar por dia. Para o cálculo, Duque somou as rendas familiares, incluindo o auxílio, e dividiu pelo número de moradores das casas.

Se retirado esse recurso das famílias e substituído de volta pelo Bolsa Família — que paga mensalmente uma média de 200 reais por mês —, o contingente de crianças que estaria vivendo na miséria sobe para 7,93 milhões, 19,4% do total. A diferença entre os dois cenários é o resultado de 5,6 milhões de crianças.

Esse recorte foi feito já que as regras do auxílio emergencial impedem que beneficiários acumulem dois recursos pagos pelo governo federal.

Em um cenário de nenhuma transferência de renda (nem auxílio nem Bolsa Família) o total de crianças abaixo da linha da pobreza teria chegado a 9,11 milhões (22,2% do total). “Mesmo o auxílio emergencial não sendo um programa de redução de pobreza, esses dados mostram que ele tem um resultado potente e significativo, principalmente quando se olha para crianças”, diz Duque.

Na avaliação do pesquisador, a autorização para o repasse do auxílio em dobro às mães e aos pais solteiros impulsionou esse resultado, mas que o benefício ajudou a todos. De fato, os dados mostram que, para a população que recebeu o benefício, excluindo as que têm crianças, o impacto na extrema pobreza foi menor.

Em maio, 8,82 milhões de brasileiros estavam na miséria, o que representa 4,2% da população total do país. Sem auxílio, mas com o recebimento do Bolsa Família, esse contingente aumenta para 28,02 milhões de pessoas (13,3% do total), ao passo que sem nenhuma transferência de renda o total teria chegado a 31,82 milhões (15,1%).

O pesquisador diz que os resultados encontrados dão mais visibilidade ao aquecido debate sobre a necessidade que o país garanta uma renda mínima a brasileiros que são pobres, mas não se enquadram nas delimitações do Bolsa Família.