Avanços e bons resultados para além da sala de aula

Veículo: Diário do Nordeste - CE
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Frases como "não se sabote, se supere!" e "acreditar é essencial, mas ter atitude faz a diferença" não somente estão estampadas nas fardas dos alunos da Escola de Tempo Integral Matias Beck, localizada no bairro Vicente Pinzón, como forma de motivação. Elas são ação e estão nas expressões, no comportamento, na resiliência, na confiança de encarar o dia a dia estudantil, nos desafios na sala de aula ou na comunidade onde moram e espelham a transformação por que passa o Ensino Médio no Ceará.

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Transmissão de conteúdos, reforço nos exercícios, provas, redações, metas por notas mais altas são fundamentais, no entanto, não suficientes nem para melhores resultados, nem muito menos na manutenção do aluno ou na sua formação como protagonista no enfrentamento dos desafios deste século.

Assim como o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) nasceu a partir do reconhecimento das graves deficiências no Fundamental, o Estado entendeu que, para mudar o cenário caótico do grau médio da aprendizagem, era imprescindível fazer muito mais do que mudar currículo, estruturação física das unidades ou capacitar professores.

Projetos como Diretor de Turma, monitoramento e acompanhamento de cada discente, principalmente na transição do 9º ano do Ensino Fundamental para o 1º ano do Médio; preparação especial para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), vários eventos que movimentam a rede durante todo o ano e, desde 2012, as oficinas de competências socioemocionais potencializam as mudanças e colocam o Estado em uma condição de destaque no Brasil. Os resultados, mesmo lentos, estão aparecendo: a taxa de evasão/abandono escolar caiu de 15,2%, em 2007, para 8,2%, esse ano. A aprovação subiu de 72,5% para 81,2% e a repetência, reduziu de 11,1% para 6,3%, em 2015, de acordo com dados do Censo Escolar, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

"Ainda estamos longe do desejado. Temos muitos problemas. Sei que o caminho é árduo, mas possível de seguir", avalia o titular da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Idilvan Alencar, destacando a aprovação do projeto pela Assembleia Legislativa (AL) que cria a Política Pública da Escola de Tempo Integral e possibilita, por exemplo, ampliar o tempo de permanência do aluno na instituição. O projeto foi encaminhado à AL pelo governador Camilo Santana. "Temos 712 unidades e 450 mil alunos. Do total, 71 unidades já são de tempo integral, nossa intenção é chegar, até 2018, com 40% da rede ou 285 escolas em que o aluno entra às 7h e sai às 17h", frisa Camilo.

O acompanhamento durante a transição de quem sai do Ensino Fundamental para o Médio, com projeto-piloto em Fortaleza, já resultou na identificação, "resgate" e matrícula de cinco mil adolescentes que corriam o risco de não continuar os estudos. "Ao todo, sabemos que a Capital ainda tem mais três mil, de um universo de oito mil, que deixaram a escola. Vamos continuar o trabalho, pois nosso objetivo é que todos entrem, concluam o Ensino Médio e possam fazer o Enem", comenta o titular da Seduc.

O trabalho realizado no Ceará é reconhecido por especialistas da área. Um deles, Rui Aguiar, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), analisa que, paradoxalmente, o principal problema do Ensino Médio começa no 6º ano do Fundamental, período, aponta, marcado pelo abandono escolar e pelo ingresso de adolescentes nas mais diversas formas de trabalho infantil e exploração. O Ensino Médio brasileiro, avalia, melhorará na medida em que toda criança que tenha ingressado na Educação Infantil aos quatro anos de idade conclua o Ensino Fundamental aos 14. "A regularização deste fluxo de atendimento em escolas públicas de qualidade, com padrões básicos de funcionamento e profissionais de educação estimulados com bons salários e acompanhamento pedagógico adequado, fará com que os adolescentes que cheguem ao Ensino Médio concluam a Educação Básica com sucesso".

Sobre isso, Idilvan Alencar reafirma que uniformizar bons resultados em todos os ciclos da Educação Básica do Estado é a principal meta de todo trabalho realizado. "Para fortalecer, principalmente a aprendizagem em disciplinas como Língua Portuguesa, determinamos que, todas as quintas-feiras, é dia de redação. Teremos uma hora a mais e apoio de corretor de texto".

"Acreditar que a gente consegue faz sim a diferença. Ter melhores professores, integração de todos e apoio também", analisa a aluna Victória Nogueira, do 3º ano do Ensino Médio. Para ela, passar no Enem e cursar Medicina são metas agora bem menos distantes do que antes.