Brasil inicia vacinação de crianças contra dengue no SUS; veja quem pode ser imunizado

Veículo: Exame - BR
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Vacinação de crianças contra dengue: A imunização contra a doença começa em meio ao aumento de casos em todo o Brasil

vacinação de crianças contra dengue
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

O Ministério da Saúde informou que o inédito processo de vacinação de crianças de 10 a 11 anos contra a dengue pelo Sistema Único de Saúde (SUS) começou nesta sexta-feira, 9. Desde quinta, a pasta realiza a distribuição dos imunizantes aos municípios que atendem aos critérios definidos em conjunto com os conselhos de Secretários de Saúde (Conass) e de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

A imunização contra a doença começa em meio ao aumento de casos em todo o Brasil. Em janeiro, foram registrados no país 243,7 mil casos de dengue, 3,7 vezes a mais quando comparado ao mesmo período de 2023, segundo informações do Ministério da Saúde.

Nesta sexta-feira, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp) informou que as internações por casos de dengue aumentaram em 80% dos hospitais de São Paulo no período entre 29 de janeiro a 7 de fevereiro.

Na última quinta-feira, 8, o estado de São Paulo registrou a sexta morte por dengue no ano, a primeira na capital. A vítima foi um homem de 76 anos. De acordo com monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde, o estado já tem 34.995 casos confirmados da doença em 2024, e mais de 31 mil casos suspeitos.

Ministra diz que dengue é um problema de saúde pública “há muito tempo”

A ministra Nísia Trindade acompanhou o início da vacinação na Unidade Básica de Saúde 1 do Cruzeiro, no Distrito Federal. “É um momento histórico. Há 40 anos se espera por uma vacina para a dengue. Já houve vacina desenvolvida, não tão bem-sucedida, e agora temos uma incorporada ao SUS”, disse.

Ela lembrou que a vacinação contra a doença começaria mesmo que não houvesse a epidemia em algumas regiões neste ano. “A dengue é um problema de saúde pública há muito tempo”, reforçou.

A pasta afirma que pela primeira vez em anos os quatro sorotipos do vírus causador da doença (1, 2, 3 e 4) circulam no Brasil. Além disso, o fenômeno El Niño que eleva as temperaturas, cria um clima ideal para o mosquito vetor, o Aedes Aegypti, se reproduzir. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre o aumento das arboviroses, doenças causadas pelos arbovírus, que incluem os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela.

Além da vacinação, o ministério recomenda medidas para proteção da população, como manter as caixas d’água, ralo e pias tampados, higienização dos bebedouros de animais de estimação etc.

Quem pode tomar vacina contra dengue pelo SUS

O público-alvo inicial, de 10 a 14 anos, foi acordado entre os conselhos representantes dos secretários de saúde estaduais e municipais, seguindo a recomendação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) e da Organização Mundial de Saúde (OMS). O esquema de imunização vai avançar progressivamente, assim que novos lotes forem entregues pelo laboratório fabricante.

Não estou entre o público prioritário. Como faço para tomar a vacina?

Quem está fora da faixa etária classificada como prioritária pela pasta deve procurar a vacina na rede particular. Neste caso, é preciso ficar atento, já que há dois imunizantes distintos no mercado: a Qdenga e a Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi. A segunda opção, entretanto, é indicada para a faixa etária de 6 a 45 anos e recomendada somente para pessoas que já foram previamente infectadas pela dengue.

Clínicas particulares que oferecem o imunizante contra doença viram a demanda pela vacina saltar 110,75% em janeiro, na comparação com dezembro. Algumas clínicas privadas já relatam falta do imunizante. 

Qual o preço da vacina contra dengue na rede privada?

O preço das doses na rede privada pode variar de acordo com a clínica, laboratório ou farmácia. Na Drogasil e Droga Raia cada dose da vacina Qdenga custa R$ 349,90. Nas clínicas do Grupo Fleury cada dose custa entre R$ 400 e R$ 470.

A vacina da dengue também protege contra o Zika e o Chikungunya?

A Qdenga previne exclusivamente casos de dengue e não protege contra outros tipos de arboviroses, como Zika, Chikungunya e febre amarela. Vale lembrar que, para a febre amarela, no Brasil, estão disponíveis duas vacinas: uma produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), utilizada pela rede pública, e outra produzida pela Sanofi, utilizada pelos serviços privados de imunização e, eventualmente, pela rede pública.

Quantas doses e com que intervalo deve ser aplicada a vacina da dengue?

O esquema completo da Qdenga é composto por duas doses, a serem administradas por via subcutânea com intervalo de 3 meses entre elas. Quem já teve dengue também deve tomar a dose. A recomendação, nesses casos, é especialmente indicada por conta da melhor resposta imune à vacina e também por ser uma população classificada como de maior risco para dengue grave.

Para quem apresentou a infecção recentemente, a orientação é aguardar 6 meses para receber o imunizante. Já quem for diagnosticado com a doença no intervalo entre as duas doses deve manter o esquema vacinal, desde que o prazo não seja inferior a 30 dias em relação ao início dos sintomas.

A vacina contra a dengue passou por testes?

A Qdenga demonstrou ser eficaz contra a dengue tipo 1 em 69,8% dos casos; contra a dengue tipo 2, em 95,1%; e contra a dengue tipo 3, em 48,9%. Já a eficácia contra a dengue tipo 4 não pôde ser avaliada devido ao número insuficiente de casos causados pelo sorotipo durante o estudo. Também houve eficácia contra hospitalizações por dengue, com proteção geral de 84,1% e estimativas semelhantes entre soropositivos (85,9%) e soronegativos (79,3%).

Quantas e quais são as vacinas contra a dengue aprovadas para uso no Brasil?

A Qdenga é a primeira vacina contra a dengue aprovada no Brasil para um público mais amplo, já que o imunizante aprovado anteriormente, Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi-Pasteur, só pode ser utilizado por quem já teve dengue. A Dengvaxia não foi incorporada ao SUS e é contraindicada para indivíduos que nunca tiveram contato com o vírus da dengue em razão de maior risco de desenvolver quadros graves da doença.

 

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