Brasil teve 13 crianças e adolescentes vítimas de violência por hora, mostra Atlas da Violência
A cada hora, 13 crianças e adolescentes de até 19 anos sofreram algum tipo de violência em 2023, entre física, psicológica, sexual e negligência. Foram 115.384 vítimas registradas no país, um aumento de 36,2% em relação ao ano anterior. Os dados são do Atlas da Violência 2025, divulgado na manhã desta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A socióloga Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ressalta que os lares brasileiros estão mais violentos, em especial depois da pandemia da Covid-19, que deixou as famílias confinadas dentro das casas, isoladas do ambiente externo.
— Temos o desafio analítico de descobrir o que aconteceu em anos recentes que tornou esse espaço, que deveria ser de proteção, um ambiente tão hostil, tão violento. Depois da pandemia, alguma coisa mudou. Determinadas dinâmicas de relacionamento são acentuadas no âmbito familiar. Temos mais perguntas do que respostas — pontua Samira.
O estudo mostra ainda que, nos onze anos de monitoramento, entre 2013 e 2023, houve um aumento de casos para as quatro categorias de violências contabilizadas (física, psicológica, sexual e negligência) — à exceção de 2019, início da pandemia e do isolamento social, que contribuíram para uma queda das notificações.
Para chegar aos números, o Atlas da Violência usa registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, do Ministério da Saúde, um banco de dados para coletar doenças e situações de notificação compulsória. A pesquisa ressalta, entretanto, que o crescimento expressivo pode estar relacionado à expansão da cobertura desse sistema no período.
A pesquisa sugere que o tipo de violência muda à medida que a criança cresce. Os infantes (0 a 4 anos) sofrem principalmente com a negligência (61,4%). Crianças (5 a 14 anos) são mais vítimas de violência psicológica (54,8%) e sexual (65,2%). Já os adolescentes (15 a 19 anos) são os principais alvos de violência física (58,2%).
A residência é o local onde mais ocorrem as violências em todas as faixas etárias. No caso dos infantes e crianças, a casa responde por 67,8% e 65,9% do local das notificações, respectivamente. No dos adolescentes, por 48,4% dos casos. Nessa idade, as vias públicas começam a representar mais perigo: concentram 28% das ocorrências.
A pesquisa ressalta que, além da violência ocasionado por familiares, é preciso se atentar para as “consequências severas sobre a saúde mental das crianças e adolescentes que vivem nesses ambientes, o que pode ocasionar um quadro de ansiedade e depressão”. O estudo diz que um reflexo disso é o crescimento no número de crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos que se suicidaram nos onze anos analisados.
De acordo com o Atlas, o número de suicídios nessa faixa etária passou de 785 casos, em 2013, para 1.120, em 2023, um acréscimo de 42,7%. “É crucial, portanto, implementar políticas públicas que adentrem nos domicílios para orientar as famílias, além de promover intervenções educacionais, com ampliação dos espaços de diálogo. É fundamental ainda reforçar políticas de igualdade e respeito para garantir a saúde física e mental de nossas crianças”, reforça a pesquisa.
— Esses números remetem à discussão sobre adolescência, bullying, ataques nas escolas, redes sociais… Como tudo isso vai criando um caldo, e ajudando no adoecimento. Além do lar mais violento, não podemos ignorar esse cenário, essa crise dessa geração — diz Samira.
Homicídios
Em onze anos, o Brasil perdeu 99.003 vidas de crianças e adolescentes de até 19 anos, todas vítimas de homicídios. São milhares de crianças que não terão a oportunidade de ir à escola, construir uma família e uma carreira.
Segundo o Atlas, em 2023 a taxa de homicídios na primeira infância (0 a 4 anos) teve um aumento em relação ao período anterior (20%), com o registro de 1.2 caso por 100 mil habitantes. O índice para crianças (5 e 14 anos) se manteve estável, com 1,2 homicídio. Para os adolescentes (15 e 19 anos), vítimas mais frequentes de homicídio nessas faixas etárias, o índice apresentou uma queda (-7,6%), com 31,5 registros por 100 mil habitantes.
Segundo o Atlas, a morte violenta é a principal causa de óbito de jovens (15 e 29 anos) no Brasil. Em 2023, quase metade dos homicídios registrados foram de jovens nessa faixa etária — 21.856 dos 45.747 casos, ou 60 jovens assassinados por dia no país.
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