Brasil vai incluir vacina contra bronquiolite infantil no SUS, decide Ministério da Saúde

Veículo: Folha de Pernambuco - PE
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O Brasil vai incorporar a nova vacina contra a principal causa de bronquiolite infantil, o vírus sincicial respiratório (VSR), no Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde divulgou, nesta segunda-feira à noite, que decidiu seguir a recomendação favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) favorável à medida, emitida no último dia 13.

O imunizante é o Abrysvo, da Pfizer, e será incluído no Calendário Nacional de Vacinação da Gestante do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A vacina, primeira no mundo que tem como público-alvo proteger os bebês do VSR, foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso no Brasil em abril deste ano.

Em dose única, ela é destinada às gestantes de até 49 anos e deve ser aplicada durante o segundo ou terceiro trimestre da gravidez. O objetivo é que a mãe desenvolva os anticorpos e os transfira para o bebê ao longo da gestação, protegendo dessa forma os recém-nascidos.

Nos estudos clínicos de fase 3, a estratégia reduziu em 81,8% os casos de doença do trato respiratório inferior (DTRI) grave nos primeiros três meses de vida do bebê, e em 69,4% seis meses após o nascimento.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) já recomendam a vacina, disponível na rede privada, como rotina entre a 32ª e a 36ª semana de gravidez. No mercado privado, o valor da dose é de até R$ 1.692,54, segundo determinação da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

Para ser incorporada no SUS, a vacina precisava do parecer favorável da Conitec e, posteriormente, da decisão do Ministério da Saúde, que é o responsável pela palavra final. A pasta diz que deve publicar nos próximos dias a portaria confirmando a incorporação.

Na América Latina, a Argentina e o Uruguai já incorporaram a vacina nas suas redes públicas de saúde. A Pfizer também firmou um acordo internacional com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para que a dose seja oferecida aos Estados membros da entidade por meio do Fundo Rotativo para Acesso a Vacinas.

— A introdução dessas tecnologias representa um avanço significativo na proteção das nossas crianças, com redução das internações diante do alto número de casos. É um marco da nossa política de imunização e no cuidado de gestantes e bebês — diz a ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Impacto do VSR
Segundo o Ministério da Saúde, dados da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) indicam que o VSR é responsável por cerca de 80% dos casos de bronquiolite e até 60% das pneumonias em crianças menores de dois anos.

A pasta estima que uma em cada cinco crianças infectadas pelo vírus necessite de atendimento ambulatorial, enquanto uma em cada 50 seja hospitalizada no primeiro ano de vida.

Segundo dados do projeto Infogripe, da Fiocruz, apenas em 2024 o Brasil registrou 83,6 mil casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) com resultado laboratorial confirmado para algum vírus respiratório.

Destes, 27 mil foram causados pelo VSR: 32,4% do total, mais do que a Covid-19 ou a gripe, por exemplo. E a grande maioria deles (84,9%), 23 mil, foi registrada entre os menores de 2 anos.

Somente entre os bebês prematuros (nascimento com menos de 37 semanas), a pasta da Saúde diz que foram 83,7 mil internações devido a complicações relacionadas ao VSR entre 2018 e 2024.

No relatório da Conitec, estima-se que uma cobertura vacinal de 62% – baseada na média observada das coberturas com as doses de gripe e dtpa em gestantes entre 2015 e 2023 no Brasil – representaria uma redução de aproximadamente 44 mil internações a cada ano pelo VSR.

Anticorpo também será incorporado ao SUS
Além do imunizante, o Ministério da Saúde também vai incorporar o anticorpo monoclonal nirsevimabe, conhecido pelo nome comercial Beyfortus. O medicamento, da Sanofi, também recebeu parecer favorável da Conitec.

De modo diferente da vacina, que induz o sistema imunológico a produzir anticorpos de forma ativa, o remédio é o que se chama de imunização passiva, já que entrega diretamente anticorpos para o paciente.

Nesse caso, ele é aplicado de forma injetável e destinado a bebês prematuros e crianças até 2 anos nascidas com comorbidades, também para evitar casos graves do VSR.

Até então, a única opção para proteger os recém-nascidos do vírus no SUS era o anticorpo palivizumabe, restrito aos prematuros extremos (com até 28 semanas de gestação) e crianças com até dois anos de idade que apresentassem doença pulmonar crônica ou cardiopatia congênita grave.

Segundo a pasta da Saúde, com a incorporação do nirsevimabe a expectativa é ampliar a proteção para mais 300 mil crianças. Já a vacina para gestantes pode beneficiar cerca de 2 milhões de nascidos vivos.

“A iniciativa reforça o compromisso do Ministério da Saúde em reduzir a mortalidade infantil e diminuir a pressão no sistema de saúde, que enfrenta grande sobrecarga durante os períodos de alta circulação do VSR”, diz o ministério.

 

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