Calvário infantil
O desabafo de uma garota de oito anos, na Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente em Goiânia, é revelador. "Por favor, me deixa. Não me pergunta mais nada sobre isso. Eu queria esquecer". Entremeadas por raiva, medo e dor, as palavras denotam o calvário de milhares de meninos e meninas levados à polícia e à Justiça para denunciar abusos sexuais sofridos. Repetir duas, três, sete vezes ou mais o próprio drama, além de transitar por ambientes pouco amigáveis, como salas de audiência, é uma rotina para a infância no Brasil. Iniciativas como o depoimento especial, implantado em algumas comarcas de 21 unidades da Federação, tenta mudar essa realidade. Ao custo unitário médio de R$ 30 mil para implantação, salas de depoimento especial de crianças e adolescentes já somam 100 em varas especializadas e criminais do país, segundo estimativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Nesses locais ambientados para facilitar o contato com as vítimas, psicólogos, assistentes sociais ou pedagogos conduzem a entrevista, usando técnicas específicas, além de outros instrumentos, como desenhos e jogos.