Capital do Ceará é considerada a 1ª em violência na escola
Ameaças, brigas, roubos, xingamentos e até violência sexual. Tudo isso dentro da escola. Em Fortaleza, 67,2% dos estudantes do 6º ano ao ensino médio da rede pública relataram ter sofrido, em 2015, algum tipo de agressão no ambiente escolar. Comparando as sete capitais brasileiras com as maiores taxas de homicídios entre jovens, lista da qual Fortaleza faz parte, uma pesquisa divulgada na última segunda-feira (21) pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) mostrou que a cidade cearense é a líder no percentual de crianças e adolescentes vítimas de violência física ou verbal nas instituições municipais e estaduais.
Elaborado em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e a Organização dos Estados Interamericanos (OIE), o estudo realizou, na Capital, entrevistas com 1.246 alunos de 20 escolas da Prefeitura e do Estado.
De acordo com os dados, a maior parte dos estudantes hostilizados diz ter sido alvo de ciberbullying, humilhações ou ofensas cometidas por meio da Internet. Em seguida, vieram roubos ou furtos, ameaças, embates físicos e violência sexual.
A pesquisa revelou, ainda, que, em Fortaleza, a grande maioria dos conflitos (64,87%) aconteceu entre alunos. No entanto, professores, diretores e outros funcionários da escola foram, juntos, responsáveis por 23,9% das agressões. “Todos esses dados mostram como as relações sociais existentes no ambiente escolar são complicadas”, diz a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora da pesquisa.
Segundo ela, embora o contexto social fora das instituições de ensino tenha influência no que acontece dentro delas, a violência no colégio tem raízes próprias. “A escola produz sua própria violência, que ocorre independentemente de brigas de gangue ou tráfico de drogas no entorno, por exemplo. Os principais problemas se dão a partir do que acontece dentro desse ambiente”, acrescenta.
Para Mara Carneiro, membro da coordenação colegiadas do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), o cenário existente hoje também é resultado da ausência do debate sobre direitos humanos nas escolas. “Se as escolas debatessem direitos mútuos, quem sabe essa pesquisa teria resultado diferente. Além disso, a formação de professores também é fundamental. Não ser violento é uma questão de prática e não se acaba com a violência sendo violento”, observa.
Conflitos
Conforme a Secretaria Municipal de Educação, agressões são combatidas com ações em três eixos: prevenção, com promoção da cultura de paz; articulação intersetorial; resolução de conflito por meio da mediação. Sobre a violência cometida por profissionais, os agressores podem responder por processo administrativo e, se necessário, serem exonerados.
A Secretaria de Educação do Estado informou que atua em iniciativas que colaboram para a garantia de direitos de crianças e adolescentes e para a prevenção da violência. “Cada uma das ações dos diferentes programas e projetos tem um foco específico, mas juntas promovem a melhoria do ambiente escolar e um olhar cuidadoso sobre as vulnerabilidades dos alunos”.