Casos de trabalho infantil cresceram 16% em 2022
O número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil está em alta após a pandemia de Covid
Até novembro de 2022, mais de 1,9 mil crianças e adolescentes foram encontrados em situação de trabalho infantil no Brasil. O número representa um aumento de 16% em relação ao ano anterior, quando 1,6 mil foram encontrados na mesma situação.
Desse total, a fiscalização constatou que 261 crianças e adolescentes trabalhavam em estabelecimentos de comércio varejista. Outras 248 desempenhavam atividades relacionadas ao ramo de alimentação, enquanto a agricultura e pecuária representou 104 casos.
Na ordem de milhões
A líder de programas da Fundação Abrinq, Michelly Antunes, considera que os números não descrevem a dimensão real do problema no Brasil. “O trabalho infantil é um dos principais problemas que hoje o país enfrenta”, afirma.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2019, cerca de 1,8 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos estavam trabalhavam no Brasil. Em escala global, são mais de 160 milhões no contexto, de acordo com a Organização Mundial do Trabalho.
A secretária executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Fnpeti), Katerina Volcov, afirma que os números alarmantes refletem a desigualdade social. “Aquela criança ou adolescente já sofreu uma serie de violações”, descreve.
Vedação legal
A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) proíbe qualquer trabalho a menores de 16 anos, com exceção de casos em que são aprendizes, o que pode ocorrer a partir dos 14 anos. Apesar da vedação legal, o poder público ainda falha em concretizá-la.
A secretária executiva do Fnpeti afirma ser necessário, por exemplo, aumentar o efetivo da Auditoria Fiscal do Trabalho para cuidar da questão. “Esse número [de crianças encontradas em situação de trabalho infantil] poderia ser muito maior se nós tivéssemos uma quantidade maior de auditores no território”, destaca.
“Temos uma legislação bastante avançada sobre a questão de defesa e proteção da criança e do adolescente”, afirma. A especialista ainda lembra que o país está submetido ao Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, criado em 1996 e que inclui ações como transferências de renda, trabalho social com famílias e oferta de serviços socioeducativos para crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil.
Pandemia trouxe piora
A pandemia de Covid-19 aumentou o contexto de vulnerabilidade a que famílias estão expostas no país. A Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) apontou, em 2022, que 33,1 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar.
A líder de programas da Fundação Abrinq observa que, apesar do trabalho infantil ser um problema antigo, a pandemia foi capaz de alavancar o número de crianças e adolescentes na situação. “A pandemia veio para escancarar esse problema”, diz.
“A pandemia fez com que muitas famílias não tivessem o mínimo para sobreviver e isso implica com que as pessoas façam o que for necessário para sobreviverem”, observa Katerine ao lembrar da necessidade de crianças trabalharem para complementar a renda.
Desafio
Diante dos obstáculos impostos pela pandemia, o desafio para solucionar a questão acaba sendo ainda maior. É o que pensa Michelly Antunes. Ela considera que a solução deve contar com a cooperação entre poder público, setor privado e sociedade civil organizada.