Cerca de 400 milhões de crianças no mundo sofrem violência doméstica

Veículo: Alma Preta Jornalismo
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Uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) revela que 60% das crianças com menos de cinco anos em todo o mundo – aproximadamente 400 milhões – são submetidas a formas de disciplina física ou psicológica violenta em seus lares. Essa estimativa foi baseada em dados coletados entre 2010 e 2023 em 100 países, com ênfase em práticas como “castigo físico” e “agressão psicológica”.

No Brasil, cerca de 90% das situações de violência contra crianças ocorrem no ambiente familiar, sendo que 72,7% dos casos acontecem no domicílio da vítima e do agressor. De acordo com a Universidade de São Paulo (USP), a utilização da violência por parte dos pais em relação aos filhos é uma prática comum e aceita na sociedade brasileira.

O informe aponta que a crença de que problemas de comportamento ou indisciplina são resultado da “falta de disciplina” ou da “mão leve” dos pais está enraizada no imaginário popular há décadas. Métodos como puxões de orelha, tapas, chineladas e o uso de cintos são formas tradicionais de agredir crianças, frequentemente legitimadas pela moral social.

A professora Marilene Proença, do Departamento de Aprendizagem do Instituto de Psicologia da USP, avalia que há uma conexão entre o passado e o presente sobre essa questão.

“Temos uma tradição que remonta ao período colonial e à escravidão, em que a violência física e o espancamento eram vistos como formas de educação. Para rompermos com essa cultura de violência, é essencial desenvolver novas estratégias e uma nova abordagem para a educação infantil”, ressalta a professora ao jornal universitário.

Para a especialista, a educação deve ser entendida como um processo de diálogo. Estabelecer uma relação de respeito mútuo com a criança é fundamental para criar um ambiente saudável, em que o indivíduo possa se desenvolver de forma mais eficaz e compreender melhor os limites que precisam ser respeitados.

“Dialogar não significa que os limites não existam. É crucial entender que dialogar não implica em permissividade absoluta; trata-se de explicar à criança o que está acontecendo. Quando utilizamos essas abordagens em vez de recorrer a ameaças, a criança começa a perceber que suas ações têm consequências para os outros”, esclarece.

 

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