Combate à violência passa por convivência democrática nas escolas
Combate à violência: Para pesquisadoras, percepção equivocada da violência como solução de problemas e falta de políticas de incentivo ao diálogo explicam episódios de ataques
O país se deparou nesta quarta-feira (5) com mais um ataque a escolas. Um homem invadiu uma creche em Blumenau (SC) e matou e feriu crianças. A Agência Brasil entrevistou especialistas para entender os motivos que levam à violência contra as escolas.
Para as pesquisadoras, a percepção equivocada da violência como solução para problemas e a falta de políticas de incentivo ao diálogo podem ser encaradas como gênese desses problemas. Além disso, a falta de respeito à diversidade e a propagação de grupos de ódio também estão entre fatores que compõem o panorama brasileiro. A prevenção e o controle desses atos passam pela adoção de programas que promovam a convivência ética e democrática dentro e fora das escolas.
A professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Luciene Togneta ressalta que as políticas devem ser construídas a partir de estudos liderados pelas universidades e em parceria com profissionais que lidam com o ambiente escolar diariamente. “Não existe algo a curto prazo, e sim a longo prazo e não somente na escola. É todo o sistema de proteção onde a escola está inserida. É preciso que as pessoas que estão no chão da escola pensem em soluções junto com a universidade. O professor não sabe o que fazer em convivência”. Segundo ela, o acompanhamento das ameaças precisa ser constante, e não apenas em momentos críticos.
Combate às redes de ódio
Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), Luciene Tognetta afirma que as escolas estão entre os alvos preferenciais porque concentram um grande número de pessoas e porque os ataques são seguidos de grande visibilidade.
“O ato contra uma escola causa muita repercussão e onde vai conseguir executar o plano com precisão. Além disso, a escola é um lugar de convivência, por excelência, onde irei encontrar o outro, o diferente”, diz a docente de pós-graduação da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp.
A coordenadora do Programa de Estudos e Políticas sobre Juventude, Educação e Gênero: violências e convivência da Faculdade Latino-Americana das Ciências Sociais (Flacso), Miriam Abramovay, destaca que as narrativas racistas, misóginas e de ódio têm cada vez mais ganhado aderência entre jovens, tornando-se urgente o combate a essas redes.
“A gente está falando aqui de crimes de ódio. Por que esses jovens têm esse ódio? O que está acontecendo com a nossa juventude? Por que acumular tanto ódio pela escola? Por que querer matar? São todas essas perguntas que vamos ter que responder, o mais rápido possível, para que não tenham mais massacres dentro das escolas”, afirma.
Valorização da violência
As especialistas avaliam que o cenário do país, nos últimos anos, com políticas de incentivo ao uso de armas, desinvestimento em programas focados na diversidade e polarização política favorecem o ambiente para atos de violência.
A doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisadora de violência escolar, Danila Zambianco, aponta que os ataques estão relacionados ao fato de a violência ser vista, por alguns, como uma estratégia eficiente para resolver conflitos e uma forma de empoderamento dentro da sociedade.
“São muitos fatores que levam a esse efeito. Entre eles, a banalização da violência, a valorização da violência, o uso dela como estratégia para resolução de conflitos. Vimos isso com representantes do Poder Público que enalteceram a violência como estratégia, como meio, e o enfraquecimento das políticas de diversidade o que, infelizmente, enfraquece o diálogo para construir as relações interpessoais”, aponta.
Convivência democrática
Da mesma forma em que apontam que os fatores para um atentado à escola são complexos, as especialistas destacam que a prevenção desses crimes não ocorrerá isoladamente, exigindo a adoção de uma série de ações governamentais e da participação da sociedade.
“Não basta acreditar que colocar um policial armado na escola vai resolver o problema. Já tivemos casos em escolas cívico-militares, por exemplo, em Aracruz (ES). Não se trata só de uma segurança, de trancafiar as nossas crianças. A gente tem que fazer políticas públicas de promoção da convivência democrática e criar uma sociedade onde as pessoas possam conviver, dialogar, onde a violência não seja tolerada, não seja exaltada”, ressalta Danila Zambianco.
Diagnóstico nacional
Miriam Abramovay defende um diagnóstico nacional para entender o que ocorre dentro das escolas e a capacitação dos profissionais de educação para o debate do tema.
“Tem que ter um grande diagnóstico para saber o que está acontecendo dentro das escolas. A gente não sabe e nunca teve.. Segundo, temos que ter projetos de convivência escolar, programas que sejam federais, estaduais e municipais. Dentro dos programas de convivência escolar, temos que ter capacitação dos professores, diretores, pais sobre esses temas”.
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