Como fica a educação das crianças pequenas em tempos de coronavírus?

Veículo: Bebê.com.br - BR
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Durante a pandemia de Covid-19, pais com filhos idade pré-escolar podem encontrar dificuldade para entender como seguir ensinando em casa até a volta das aulas atualmente suspensas. 

Diferente das crianças mais velhas, os pequenos matriculados nas escolinhas de educação infantil ainda não acompanham aulas à distância ou têm grade curricular a cumprir durante o ano letivo. 

Para as crianças menores, o aprendizado acaba acontecendo de maneira mais livre, durante o dia todo, com a realização de algumas atividades para estimular habilidades específicas. Por isso, os pais devem abrir espaço para brincadeiras, propor bastante movimentação física e incluir a criança na rotina de tarefas da casa. 

Como as escolas estão atuando nesse período 

Sem nenhum esquema oficial definido, as particulares estão enviando propostas de atividades e materiais aos pais. “No início, as famílias estavam mais perdidas por estarem sem o apoio da escola, por isso nossa primeira preocupação foi oferecer suporte para estruturar uma rotina para a criança”, explica Carla Maia, psicóloga e especialista em desenvolvimento infantil da Escola Cores, no Rio de Janeiro. 

O colégio tem enviado vídeos diários com atividades de cinco a dez minutos que propõem experiências lúdicas. E, seguindo a proposta pedagógica da escola, os pais foram orientados a criar cantos na casa com diferentes propósitos para as crianças: um cantinho com almofadas para brincadeiras físicas, um canto das artes, com materiais para desenho, escultura e música e o canto da literatura, com uma lanterna e livros compatíveis com a idade. 

“A ideia é que a criança tenha liberdade para escolher qual lugar irá explorar e os pais combinem que ela ficará ali por um período, enquanto eles estão, por exemplo, trabalhando”, comenta Carla.

A escola QI, no Rio de Janeiro, envia por meio de uma plataforma roteiros semanais com atividades que envolvem música, brincadeira e contação de histórias. “Para manter o vínculo, os professores aparecem em vídeos curtos para passar algumas das atividades, mostrando também um pouco da casa deles aos pequenos”, comenta Dely Antunes, coordenadora da Educação Infantil da instituição.  

Outra linha bacana das instituições é oferecer conteúdo voltado para o apoio psicológico dos pais. A Escola Bee Kids, de São Paulo, preparou uma série de encontros online para os adultos mediados por uma psicóloga. Entre os temas, medo e ansiedade durante a pandemia e participação de especialistas em desenvolvimento infantil para acompanhar as crianças pequenas à distância. 

Atividades bacanas para o desenvolvimento  

Segundo a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), documento do Ministério da Educação que norteia o ensino no país, durante a educação infantil o principal é promover interações e brincadeiras, por meio das quais a criança se desenvolve emocional e cognitivamente. 

Ou seja, a palavra de ordem é estimular. Dos zero ao cinco anos, a criança está formando várias habilidades que serão fundamentais para o aprendizado pelo resto da vida escolar. Entre elas, o desenvolvimento motor, trabalhado na primeira infância com atividades como correr e pular. Estamos falando aqui da movimentação física intensa, e desafios como encaixar formas, equilibrar coisas, contornar obstáculos, jogar bola e até mesmo fazer uma guerra de almofadas. 

Outra competência importante, a linguagem, pode ser trabalhada com o uso de livros e, principalmente, muito diálogo com os pais. “Nesse período, eles devem interagir ainda mais com os filhos, ler histórias em voz alta, fazer perguntas sobre cotidiano, gostos e responder às dúvidas”, comenta Luciana Brites, psicopedagoga e uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber, em Londrina/PR. 

Como deve ser a rotina 

Como as crianças pequenas estão em pleno pico de desenvolvimento, qualquer hora do dia é uma oportunidade para estimular ainda capacidade matemática, pensamento lógico, inteligência emocional e autorregulação. “A capacidade de se organizar e saber lidar com as dificuldades pode ser ser trabalhada com o estabelecimento de rotinas”, destaca Luciana. 

Da escovação do dente ao banho, escolha de roupa e separação de materiais para as atividades, a criança deve estar atenta e participando ativamente das tarefas. “O segredo é fazer a criança pensar, sendo um sujeito que faz parte de um time e não um objeto a ser manipulado ou comandado”, comenta Carla.

Para isso, distribua atividades de acordo com a faixa etária da criança. Para as mais novas, podem ser coisas como ajudar a colocar a mesa, aprender a tomar banho sozinho e organizar os brinquedos. Para as mais velhas, mais participação no preparo de refeições, recolher o lixo e colaborar com a limpeza. 

Uma sugestão é criar um quadro com as atividades diárias, como já ocorre em algumas escolinhas. “O quadro deve ter bastante apoio visual, para que a criança compreenda seu conteúdo sem saber ler, e o ideal é que seja construído em conjunto, discutindo o que será feito naquele dia”, comenta Tânia Martin, coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Renascença, em São Paulo.

Atividades direcionadas 

Separe uma parte do dia – na maioria do tempo os filhos devem brincar livres – para atividades estruturadas, com começo, meio e fim. É um tempo curto mesmo, entre 30 minutos e uma hora, para propor uma tarefa mais parecida com as da rotina escolar. “Mas sem pressão, tudo deve acontecer de uma forma lúdica”, ressalta Luciana.

Além dos materiais enviados pelas escolas, dá para investir em atividades como a leitura, que atendem mais de uma faixa etária ao mesmo tempo e podem ser complementadas com desafios que enriquecem a experiência. 

“A criança mais nova pode imitar o som de um personagem, apontar objetos nas ilustrações, enquanto, as mais velhas desenham trechos que mais gostaram e recontam a história”, sugere Luciana. Outras sugestões: cantar e dançar, explorar os sons do corpo, fazer pinturas grandes com tinta à base de água, visitar museus virtuais (ou mesmo parques) e atividades como jogo da memória. 

Os objetos da casa são um universo a ser desvendado. Eles viram alvo de gincanas do tipo “procure coisas de determinada cor” ou, se a criança já tiver familiaridade com as letrinhas, itens com a mesma letra do nome dela. Depois da busca, conte com a criança quantos utensílios foram encontrados, converse sobre a função deles na casa e peça a ela que desenhe o que mais gostou. 

As roupas e acessórios viram fantasias para teatrinhos, looks para desfiles de modas, e os potes de plásticos já rendem horas de tampar e destampar para os menorzinhos. As famílias podem ainda construir juntas brinquedos de sucata, usando rolos de papel higiênico, papelão, tampinhas e barbantes.

Não se esqueça também de investir na movimentação física. A Organização Mundial de Saúde diz que, entre um e cinco anos, crianças devem passar ao menos 180 minutos do dia realizando atividades que envolvam o corpo, espalhadas ao longo do dia. Quanto mais tempo melhor. 

Pais não são professores 

É muito importante ter isso em mente para que o período não seja frustrante para a família. Pais não são educadores, mas sim mediadores temporários, e ideia de que é preciso dar conta de tudo pode levar ao estresse tóxico para adultos e pequenos

Tenha em mente que a criança nesta fase não está “perdendo aula”, mas sim ganhando a oportunidade de passar mais tempo com os pais, uma figura diferente do professor, mas que contribui de maneira única para o desenvolvimento infantil.

Seja flexível, sem pressão para realizar todas as atividades proposta pela escola, já que elas se somam às tarefas do lar e ao tempo passado brincando sozinha. “A riqueza da escolha dela é enorme neste momento, e fazer algo que deseja desenvolve a autonomia e a autoestima da criança”, comenta Tânia.

Por último, vale ressaltar que, em um período conturbado, crianças podem manifestar a tensão com mudanças de comportamento, choros e episódios mais frequentes de birra. “Nesse sentido, organização da casa, manutenção da rotina, apoio afetivo, presença e estrutura das dinâmicas familiares farão mais diferença do que lições para que a criança volte para a escola tranquila e bem quando a pandemia acabar”, encerra Carla.