Covid também afeta crianças sem comorbidades; estudos mostram benefícios da vacinação infantil

Veículo: O Estado de S. Paulo - SP
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Para que as vacinas sejam aprovadas e passem a ser oferecidas à população, é necessário haver estudos que comprovem a eficácia e segurança do imunizante. Foi o que ocorreu com a vacina Comirnaty para o público infantil, que foi aprovada pela Anvisa antes de ser recomendada. Após a aplicação na população, outros estudos analisaram dados de vigilância e mostraram a efetividade e segurança do imunizante.

Dados do Ministério da Saúde provam que mesmo crianças sem comorbidades morreram de covid-19. Os números do boletim epidemiológico mais recente mostram que 10 das 19 crianças com menos de 1 ano que morreram por covid-19 de janeiro a abril de 2024 não tinham condições médicas anteriores.

Segundo informe do Ministério da Saúde, ao longo de 2024 foram registradas 82 mortes por covid-19 entre crianças menores de 1 ano e 11 anos de idade.

Consultado pelo Comprova, o médico Roberto Zeballos, que gravou o vídeo, não respondeu até o fechamento desta checagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A postagem teve 260 mil visualizações e 5,2 mil compartilhamentos até 31 de março.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou dados do Ministério da Saúde, da Anvisa e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), e o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, que indicou estudos sobre o tema.

Estudos de eficácia e segurança são necessários para aprovação da vacina

O médico inicia o vídeo criticando a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do dia 21 de março, que estabeleceu que os pais que se recusarem a vacinar seus filhos contra a covid-19 estão sujeitos à multa prevista no artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A partir disso, ele dissemina informações falsas sobre a vacina covid-19.

A primeira delas é a de que não há um estudo sequer que mostre o benefício das vacinas. Isso é falso. Como consta no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vacinas só são aprovadas após a análise de estudos que comprovem qualidade, eficácia e segurança. Esses são os primeiros, de fase 1, 2 e 3.

Esse processo ocorreu antes da aprovação do imunizante Comirnaty para pessoas de 5 a 11 anos, em 16 de dezembro de 2021, e de 6 meses a 4 anos, em 16 de setembro de 2022. No site da Anvisa (aqui e aqui), consta que a vacina foi aprovada para essas faixas etárias após “uma análise técnica criteriosa de dados e estudos clínicos conduzidos pelo laboratório”. Os dados dos estudos de fase 1, 2 e 3 que atestam segurança e eficácia podem ser acessados nesta página e nesta.

Análises após a aprovação

Artigos com dados de vigilância mostram a efetividade da vacina em crianças após a aprovação dos imunizantes e sua aplicação na população. Um dos exemplos é o estudo “Covid-19 vaccination in children: a public health priority” (Vacinação contra covid em crianças: uma prioridade de saúde pública).

O texto publicado no Jornal de Pediatria analisou dados obtidos no PubMed e em publicações do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria entre janeiro de 2020 e novembro de 2022. Dentre as conclusões, consta que as formulações pediátricas da vacina da Pfizer demonstraram significativa efetividade e segurança.

Outro exemplo é o estudo “Evaluation of BNT162b2 Covid-19 Vaccine in Children Younger than 5 Years of Age” (Avaliação da Vacina contra Covid BNT162b2 em Crianças Menores de 5 anos de idade), publicado no The New England Journal of Medicine. Os cientistas responsáveis concluíram que uma série primária de três doses da Pfizer/BioNTech foi segura, imunogênica e eficaz em crianças de 6 meses a 4 anos de idade.

A revisão sistemática “Safety and effectiveness of vaccines against COVID-19 in children aged 5–11 years” (Segurança e efetividade de vacinas contra covid em crianças de 5 a 11 anos) mostrou que as vacinas de mRNA provavelmente ofereceram boa proteção contra hospitalizações por covid-19 e se mostraram moderadamente efetivas contra a infecção pela variante ômicron. O estudo foi publicado na revista The Lancet Child & Adolescent Health.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o monitoramento da aplicação da vacina em crianças mostra que ela é segura e seus benefícios superam os riscos de complicações severas por covid-19.

Mesmo crianças sem comorbidades morrem por covid

Outra afirmação falsa feita pelo médico no vídeo é a de que crianças sadias (sem comorbidades) não morrem por covid-19. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI), Renato Kfouri cita um dado do Boletim Epidemiológico nº 162, do Ministério da Saúde, de abril de 2024 – o mais recente divulgado. Na tabela 7 (abaixo), o documento mostra que, entre crianças menores de 1 ano, 10 das 19 que morreram por covid-19 de janeiro a abril não tinham condições médicas anteriores.

“É um mito dizer que as crianças que têm quadro grave ou que morrem por covid-19 são crianças de risco”, diz Kfouri, pediatra infectologista. “São números oficiais do Ministério da Saúde e que justificam a inclusão da vacina no calendário infantil”.

Segundo o informe da semana epidemiológica 52 de 2024 de Vigilância das Síndromes Gripais (tabela abaixo), foram registradas, de janeiro a dezembro de 2024, 82 mortes por covid-19 entre crianças menores de 1 ano e 11 anos de idade.

O informe mais recente do Ministério da Saúde sobre coronavírus é da semana 12, com dados de janeiro a março de 2025. O gráfico abaixo mostra que nas semanas 2 e 3, em janeiro, a proporção da mortalidade por covid-19 em menores de 2 anos só foi menor que na faixa etária acima de 65 anos.

No total, até março foram registradas 535 mortes por covid. Em pacientes de até 14 anos, foram 25 mortes. O grupo de menores de 2 anos responde pelo maior número de óbitos: 18.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova apurou evidências que desmentiram outras alegações do mesmo médico, como quando mostrou que artigo que exige retirada de vacina contra a covid-19 do mercado tem erros e não tem relevância no meio científico, que vacinas são eficazes contra variante Delta e que agência europeia não desqualificou o imunizante.

Notas da comunidade: Não havia “notas da comunidade” na postagem até a publicação desta verificação.

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