Crianças afetadas por crises e desastres climáticos enfrentam atraso escolar e dificuldades no retorno à escola
Além das questões acadêmicas, Motokane destaca que o retorno à escola é geralmente lento e cheio de dificuldades para essas crianças. “Toda vez que uma criança é afastada da escola, ela enfrenta barreiras no retorno, e, ao não aprender o que foi planejado, sente-se desmotivada, o que diminui seu engajamento”, afirma. Ele também alerta que o distanciamento prolongado pode desencadear problemas de saúde mental e física, como fome e desnutrição, agravando ainda mais o impacto das crises.
Para o professor Danilo Seithi Kato, do Departamento de Educação, Informação e Comunicação da FFCLRP, as crianças, principalmente as comunidades tradicionais, estão sendo atingidas por um fenômeno que é fruto da ação de uma geração anterior. “Essas comunidades são as mais atingidas por desastres climáticos e têm sido esquecidas pelo Estado e pelo poder público. Hoje há uma discussão dos riscos socioambientais e das crises climáticas, e os primeiros atingidos são essas populações que vivem em zonas de conflito. Os conflitos socioambientais marcam a realidade não só brasileira, mas latino-americana, e deveriam ser trazidos para o cerne do debate sobre os processos educativos.”
Áreas de risco
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), existem mais de 2 mil escolas em áreas de risco, sendo 729 escolas em área de risco hidrológico, como enchentes, inundações, alagamentos e secas, e 1.714 escolas em área de risco geológico, como deslizamentos de terra, terremotos e erosões.
Motokane relembra as enchentes que ocorreram no Estado do Rio Grande do Sul no começo deste ano. “Muitas cidades foram devastadas e levaram escolas inteiras com a força das águas. Milhares de crianças ficaram sem aula, moradia, escola, colegas, professores, a rotina de estudo e um ambiente adequado para aprender.” Para o professor, as escolas têm um papel fundamental em adotar medidas preventivas para reduzir os impactos dos desastres climáticos. “As escolas podem ter acesso aos materiais que o Cemaden produz e aos programas de formação de educadores que ensinam a prevenir deslizamentos e as causas das mudanças climáticas. O Cemaden não só trabalha com informação e formação para os professores, mas também faz uma série de campanhas e tem vários materiais para os alunos.”
Para Kato, é necessário que existam “políticas públicas e uma conscientização geral da população sobre a questão climática; para as novas gerações, também é importante se mobilizar quanto ao tema e retomar uma educação ambiental que recoloque essa tomada de consciência quanto ao meio ambiente”.
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