Crianças que mal saíram de casa na pandemia estão adoecendo mais
Restrição ao contato social nos últimos anos fez com que elas não tivessem exposição habitual a vírus e bactérias comuns durante a infância
Se os últimos dois anos foram difíceis para os adultos, para as crianças foram mais ainda. A grande maioria delas foi privada de contato social e obrigada a ficar dentro de casa – quando não apartamento – por causa da Covid-19.
Agora, no retorno às creches e escolas, também podem enfrentar algo diferente: viroses que talvez nunca tiveram.
O isolamento fez com que as crianças não se expusessem a uma série de vírus e bactérias comuns na infância.
Com a retomada da vida social, eles voltaram a aparecer, fazendo com que os adoecimentos também se tornem mais perceptíveis neste começo de ano.
A pediatra Ana Escobar, do Instituto da Criança e do Adolescente do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), explica que é normal entre março e junho que crianças tenham mais vírus respiratórios.
“Nos tempos atuais, estou sentindo que está tendo um aumento, porém, nada desproporcional ao que foi nos outros anos pré-pandemia. Durante a pandemia houve uma diminuição incrível de criança com doença respiratória nesta época, principalmente no ano de 2020. Elas ficaram muito dentro de casa, sem convívio social.”
Os patógenos incluem rinovírus, enterovírus, vírus sincicial respiratório, adenovírus, rotavírus e influenza, este último causador de gripe.
O vírus sincicial respiratório, por exemplo, é responsável pelo aumento das bronquiolites e crises de asma que no outono levam muitas crianças aos prontos-socorros.
No Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, a pediatra Caroline Peev relata, além de infecções respiratórias, incidência maior de doenças como mão-pé-boca e infecções que causam diarreia e vômito.
“A criança que inicia a vida escolar ou fica um tempo sem ir à escola manifesta todas essas doenças virais da infância. A pandemia fez com que as crianças ficassem sem contato [entre si], então os vírus não circularam de forma habitual. Quando elas se encontraram, tivemos essas manifestações em forma de pequenos surtos.”
Caroline pondera que a prolongação do isolamento em casa não evitaria que as crianças tivessem contato com o vírus, apenas adiaria.
Segundo a pediatra, o contato com esses agentes infecciosos “faz parte do desenvolvimento imunológico da criança”.
Não é somente na escola que essas doenças são transmitidas. O contágio pode se dar em um parquinho, aniversário, brinquedoteca, qualquer local em que haja contato entre crianças.
Todos esses vírus, normalmente, causam doenças autolimitadas, que exigem apenas tratamento dos sintomas e não representam um perigo às crianças, exceto aos menores de 2 anos, acrescenta Ana Escobar.
“Em criança menor de 2 anos, essas viroses preocupam porque as defesas delas ainda não estão formadas.”
As viroses em crianças se torna uma preocupação nas seguintes situações:
• Febre persistente que não diminui com o uso de antitérmicos convencionais
• Respiração difícil, cansada ou com chiado
• Vômito ou diarreia persistentes
• Boca seca, olhos fundos, diminuição das lágrimas e volume de urina (sinais de desidratação)
• Sonolência, palidez, pouca reatividade (sinais de níveis baixos de açúcar no sangue)
Se os pais ou responsáveis perceberem quaisquer dos sintomas acima, é importante levar a criança a um hospital para que ela seja examinada.