Crianças são resgatadas após denúncia de maus-tratos e tortura em Goiás

Veículo: Correio Braziliense - DF
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O olhar abatido, a sujeira e as roupas surradas contrastavam com o rosto infantil de três irmãos, de 9, 12, e 13 anos, acolhidos ontem pelo Conselho Tutelar de Santa Maria. Eles foram resgatados por uma família em um assentamento de sem-terra entre as cidades de Formosa e Flores de Goiás. A denúncia é de que eles sofriam maus-tratos do padrasto — apenas o mais novo é filho biológico do acusado. Encaminhadas à Vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios, as vítimas estão acomodadas em uma das 15 instituições de acolhimento existentes no Distrito Federal.

Segundo os conselheiros tutelares de Santa Marias, os garotos chegaram ao DF por volta das 8h, acompanhados dos responsáveis pelo resgate. “Eles disseram que eram obrigados a trabalhar dia e noite pelo padrasto. E que, se não cumprissem (a obrigação), eram castigados”, contou o conselheiro Miro Gomes. A criança e os dois adolescentes informaram, ainda, que não frequentavam a escola e que o serviço pesado se estendia até a madrugada. “Muitas vezes, o trabalho noturno era revesado para não chamar a atenção dos vizinhos”, relatou uma das vítimas ao servidor público.

O conselheiro Hesseley Santos se surpreendeu no momento em que os irmãos entraram no Conselho Tutelar de Santa Maria. Segundo ele, a situação era degradante. “Eles chegaram com fome, cansados, sujos e com cicatrizes. Com certeza, houve algum tipo de abuso”, avaliou. De acordo com Hesseley, os três relataram rotina de tortura caso não trabalhassem para o padrasto. Um deles teve uma arma de fogo apontada para a cabeça. “Se os deveres não fossem executados, eles eram ameaçados com armas de fogo, afogados, jogados em bueiros, queimados com metal, espancados e amarrados”, mencionou.

Nos depoimentos colhidos pelos conselheiros, as vítimas acrescentaram que eram obrigadas a cometer diversos crimes na região. Tudo a mando do familiar. “Eles disseram que eram obrigados a roubar gado, madeira e arames das cercas vizinhas. Isso configura aliciamento de menor”, explicou o conselheiro Miro Gomes.

Fuga

Cansados dos maus-tratos, os irmãos decidiram fugir do assentamento. Deixaram para trás a mãe grávida, além de dois irmãos mais novos, de 4 e 6 anos. Era madrugada de terça-feira quando eles aproveitaram um descuido e buscaram socorro com os vizinhos, que, por medo, negaram o auxílio. “Foi difícil o resgate, pois todos temem o padrasto dos meninos. Mas eles foram salvos, e eu espero que ele pague por tudo o que fez aos garotos”, disse um dos responsáveis pelo resgate.

Responsável por cuidar do trâmite entre o Conselho Tutelar de Santa Maria e a Vara da Infância e da Juventude do DF, o conselheiro Hesseley Santos explicou que, após o acolhimento, o trio ficará em um abrigo na capital federal. O caso, no entanto, será repassado ao Conselho Tutelar de Formosa, que ficará responsável por denunciar a situação às autoridades goianas.