Curso da Cruz Vermelha ensina como se proteger em confrontos
O curso oferecido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) a 41 professores da rede municipal de Educação, que começou na segunda-feira e ainda terá mais quatro aulas, vai ensinar aos educadores como agir em caso de incêndio, catástrofe natural e, o mais comum no Rio, tiroteio. Essas instruções poderão ser repassadas aos estudantes nas salas de aulas para diminuir os riscos de tragédias como a morte de Maria Eduarda. A jovem de 13 anos foi atingida por uma bala perdida dentro da Escola Municipal Daniel Piza, em Acari, no fim de março.
O curso ensina, por exemplo, quais são os melhores lugares para se proteger na hora das trocas de tiro. Os professores têm levado os alunos sempre para o corredor. Porém, essa pode não ser a melhor opção em todas as escolas. Os educadores aprendem como identificar quais são os locais mais seguros.
Esta terça-feira foi o oitavo dia do ano em que nenhuma escola na cidade do Rio fechou por causa de tiroteio. O ano letivo de 2017 teve 103 dias de aulas. Neste período, 382 unidades fecharam, deixando 129.504 jovens sem estudar. A situação mais séria é em Acari: lá, as escolas já perderam 30 dias de aulas.
O curso da CICV, chamado de "Acesso mais seguro para serviços públicos essenciais", já foi ministrado em países como Colômbia, Honduras, Ucrânia e Líbano, entre outros. Ele, no entanto, foi adaptado para a realidade do Rio de Janeiro.
Um dos aspectos ensinados aqui é a atenção que os professores devem dar aos sinais que podem indicar a necessidade de fechamento das unidades por causa da violência. Esse é um dos maiores dilemas dos diretores de unidades localizadas em áreas conflagradas.
De acordo com os especialistas, não há uma receita de bolo. Um dos pontos a observar é como está o entorno da escola. A ausência de cachorros na rua, em determinadas favelas, pode indicar riscos, por exemplo. Em outras, o barulho da rotina de carros passando diante do colégio deixa todos mais tranquilos.
Em uma reunião sobre a violência realizada na Secretaria municipal de Educação, uma professora contou que só quando ouve esses sons se sente segura. Segundo ela, o absoluto silêncio é sinal de que o tiroteio está prestes a começar ou apenas deu uma pausa.
A Cruz Vermelha também fará a avaliação das vulnerabilidades e condições de segurança das equipes e equipamentos da rede e indicará estratégias. O curso também ensinará aos professores a enumerar não só as perdas em termos de aprendizado, mas também econômicas.
Não abrir a escola significa desperdício de dinheiro público com, por exemplo, a merenda que não poderá ser reutilizada e o dia de trabalho do professor que não deu aula.
A iniciativa do treinamento dos docentes da rede municipal foi da própria Secretaria de Educação. Os professores que participam vão replicar esse conhecimento para o restante da rede.