DF: Escolas públicas perdem laboratório e refeitório para ampliar número de vagas

Veículo: Globo.com - BR
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Escolas públicas de São Sebastião, no Distrito Federal, tiveram de abrir mão de laboratórios e refeitório para transformar os espaços em salas de aula adicionais. Segundo os diretores, a medida foi determinada pela Secretaria de Educação para atender à demanda crescente de estudantes.

"O ideal era que fossem construídas novas escolas, mas enquanto isso não acontece, essa foi a solução emergencial", afirma o diretor da Escola Classe Bela Vista, Jair dos Santos Luiz.

A Secretaria de Educação encaminhou uma nota ao G1 na última sexta-feira (9) em que confirma a realização das obras. No entanto, a pasta não explica os motivos do "reaproveitamento" de espaços dedicados a atividades previstas na grade curricular.

Com a mudança, a Escola Classe Bela Vista terá capacidade para receber 100 novos estudantes, mas vai ficar sem espaço adequado para desenvolver atividades de ciências e de informática. Outra escola, a Vila Nova, vai poder abrir 115 vagas – para isso, as refeições passarão a ser oferecidas dentro de sala.

O Centro Educacional São Bartolomeu também substituiu uma sala de informática, um laboratório de ciências e uma sala de leitura por três salas de aula.

Segundo a Secretaria de Educação, os espaços vão abrigar seis turmas – de manhã e à tade – e atender 270 alunos. A escola trabalha com alunos do 6° ano do ensino fundamental ao 3° ano do ensino médio.

Questionada sobre reformas deste tipo em anos anteriores, a pasta informou que "não tem registros de escolas que tenham passado por esta situação em 2015, 2016 e 2017."

Bela Vista

Na Escola Classe Bela Vista, que atende cerca de 1,2 mil crianças de 4 a 10 anos, um dos laboratórios foi refomado em fevereiro do ano passado com a mesma finalidade. O espaço estava inutilizado por falta de manutenção dos computadores e virou sala de aula. Na ocasião, foram abertas 56 novas vagas.

O outro laboratório, de ciências, está em obras há cerca de duas semanas e não tem prazo para terminar, de acordo com o diretor – as aulas começam no próximo dia 15. "Os engenheiros estão aqui trabalhando e não dão prazo para finalizar a obra", diz. A área será dividida em duas salas.

"Estão quebrando as bancadas de concreto, mudando as janelas que são conjugadas, as persianas. Teve que destruir isso tudo para poder dividir a sala em duas", explicou Luiz.

Tira daqui, põe ali

Agora sem laboratórios, a escola acumula outra carência estrutural. A unidade nunca teve uma biblioteca e tampouco quadra de esportes, segundo o diretor. A única sala de leitura foi organizada no ano passado por iniciativa da própria comunidade escolar. "Nós mesmos fizemos, porque não há espaço destinado na escola para biblioteca. É pequena e tem um acervo razoável, mas que para o porte da escola é insuficiente."

Sem espaço adequado para a prática de esportes e atividades psicomotoras, a escola usa um "terreno acimentado" de improviso. “Ouvi dizer sobre projeto em 2019, mas nada oficial", disse Jair Luiz.

Refeitório virou sala

Depois de transformar os laboratórios em três salas de aula em 2016, agora é o refeitório da Escola Classe Vila Nova, que também fica em São Sebastião, que vai perder a funcionalidade original. "Agora, as crianças vão lanchar dentro da sala de aula, que não é o ambiente propício", disse um funcionário que não quis se identificar.

Ao G1, a Secretaria de Educação informou que "não há obrigatoriedade das escolas terem o espaço do refeitório em sua estrutura" e confirmou que os estudantes vão fazer as refeições dentro de sala.

Segundo ele, a Secretaria de Educação mobilizou uma equipe com engenheiro para ir à escola e avaliar os espaços que poderiam virar salas de aula. "Esse ano, quase levaram a sala de leitura. Queriam tirar até a sala da direção."

Apesar das 115 vagas adicionais nos dois turnos de aula, a mudança não é considerada adequada pela equipe pedagógica. "Não vai ter mais um lugar para lanchar com todo mundo, orientar em relação ao lanche, ao desperdício."

A escola atende cerca de 1,2 mil alunos de 4 a 10 anos, do 1º e 2º ano da educação infantil e do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

Mais alunos ou menos alunos?

A justificativa dada aos diretores para aumentar o número de salas de aula entra em contradição com os dados gerais de matrículas na rede pública do DF. Em janeiro, levantamento da própria Secretaria de Educação mostrou que os pedidos de matrícula caíram 10,4% em 2018, na comparação com 2017.

A explicação da Secretaria de Educação para o cenário é que, de 2015 para 2016, houve um aumento de inscrições devido à instituição do ensino obrigatório a partir dos 4 anos de idade. Até 2015, apenas creches atendiam crianças com esta idade – a obrigatoriedade de matrícula no ensino regular se dava a partir dos 6 anos.

"Como atendemos toda a demanda reprimida em 2017, só quem completa 4 anos é que está entrando", afirmou o subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação, Fábio Pereira de Sousa, em entrevista ao G1.

No entanto, o diretor do Sindicato dos Professores do DF, Cláudio Antunes, diz que a "universalização" do ensino às crianças de 4 e 5 anos não é real. "A demanda não é 100% atendida, como diz a secretaria. Muita criança fica fora. Muitas famílias recorrem ao Conselho Tutelar para garantir a educação dos filhos."