Distúrbio sem consenso médico
A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que entre 5% e 10% de crianças e adolescentes de todo o planeta sofram de transtorno de deficit de atenção com hiperatividade (TDAH). No entanto, a disfunção ainda não é consenso entre os médicos. De acordo com Maria Aparecida Affonso Moysés, professora titular de pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e fundadora do Fórum de Medicalização da Educação e da Sociedade, não existe uma comprovação de que haja uma doença neurológica que só altere o comportamento e a aprendizagem. "A lógica da medicina é comprovar a doença e depois tratá-la. Para essa, que chamam TDAH, o remédio foi encontrado antes", critica, dizendo se tratar de um meio de controle social de jovens normais, que passam a receber uma medicação com reações adversas graves. "Os diagnósticos são mais uma forma de enriquecer a indústria farmacêutica", pontua.
Divergência – As acusações da pediatra não fazem sentido para o professor titular de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e professor de pós-graduação em psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) Luís Augusto Paim Rodhe. Reconhecido no Brasil como especialista renomado em TDAH, Rodhe diz que a discussão a respeito do tema está atrasada. "É óbvio que o distúrbio existe. Tanto é que é reconhecido pela OMS", ressalta. O psiquiatra explica que a disfunção é neurobiológica, de base genética. "Temos estudos que mostram que, partindo de um grupo de 100 crianças com o diagnóstico para o mal e outras 100 com desenvolvimento típico, há de oito até 10 vezes mais casos do deficit nos familiares de quem é portadora do que nas outras que não sofrem do problema."