‘É um tipo de violência’: psicóloga explica danos causados em crianças e adolescentes que sofrem bullying na escola
Da brincadeira dita à agressão física, o bullying pode se manifestar de diferentes maneiras dentro do ambiente escolar. A prática, inclusive, pode causar danos a longo prazo, levando as vítimas a sofrer com os prejuízos já na vida adulta. Contudo, as reações podem aparecer ainda na infância ou adolescência. Um aluno de 15 anos, nesta quarta-feira (5), atirou contra três adolescentes em uma escola de Sobral, no Ceará. Ele alegou à Polícia que sofria bullying cometido pelas vítimas.
A psicóloga Fabiana Vasconcelos explicou que o bullying precisa ser encarado de maneira séria. “É um tipo de violência. É classificado como um tipo de agressão ao outro. Então, a criança que sofre algum tipo de agressão vai ter um efeito emocional e também o bullying pode se estender para uma ação física, que implica em agressão física”, explicou.
O secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Sandro Caron, informou que a Polícia Civil investiga como o adolescente de 15 anos teve acesso à arma utilizada para ferir os colegas. A arma está registrada a um Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), e a ligação do responsável com o adolescente ainda não foi detalhada.
“Sofrer bullying significa que a criança está em um lugar onde não esta se sentindo segura e está se sentindo agredida. Os efeitos disso a gente já conhece, com outros tipos de violência. Ela pode começar a sentir-se marginalizada dentro do grupo; e geralmente isso acontece dentro do espaço escolar, onde ela necessariamente tem de se agrupar todos os dias”, comentou Fabiana.
A psicóloga explicou ainda que os traumas causados pelo bullying na escola, se não resolvidos — ou preferencialmente evitados —, podem prejudicar a vítima para além do período em que passa pela violência.
“Ela vai começar também, dependendo da vulnerabilidade dela, da família que ela vem, a se achar um indivíduo que não é aceito pelo mundo, que não é bem recebido. É uma variação de efeitos emocionais que podem ser de longo prazo. A criança pode crescer com esses sentimentos e levar para a vida adulta”, comentou Fabiana.
“Essa criança pode não querer ir à escola, pode começar a desenvolver comportamentos que comecem a criar outros espaços sociais para ela existir, como a internet, que pode servir como um escape”, complementou.
A psicóloga disse ainda que o trauma pode evoluir para um estado depressivo. “Ela pode se sentir sem amigos, e isso pode fazê-la entrar em um estado de tristeza. Potencialmente essa criança vai se sentir inferiorizada, diminuída, pode ter um efeito na autoestima da criança. Ela pode não se sentir capaz de existir naquele mundo. Ela pode ter medo de ir à escola”, reforçou Fabiana.
Como evitar o bullying nas escolas?
Aluno sendo socorrido após ser baleado por colega em escola de Sobral, no interior do Ceará — Foto: Reprodução
Fabiana Vasconcelos respondeu também sobre as estratégias para evitar que o bullying aconteça, ou que ele evolua para situações extremas. “O mais indicado é que as escolas tenham programas de competência socioemocional. Um programa com conteúdo que é aplicado todos os anos, de forma semanal, onde crianças e adolescentes possam expressar os sentimentos em relação ao que está acontecendo no mundo”, sugeriu.
“Como a escola é muito focada no conteúdo, a criança tem de ter um outro componente, uma outra disciplina, que é onde ela possa se abrir em relação aos sentimentos e alguém possa escutá-la”, complementou Fabiana.
Para ela, quando a criança ou o adolescente está em um grupo que tem um facilitador, falando sobre como se sentir no mundo, a escola traz a consciência de existir, e da necessidade do bem-estar social em comunidade.
“É isso que a escola pode promover. Fora isso, pode também orientar famílias, com reuniões e grupos de pais, com educadores unidos em propostas às famílias de como essa orientação também pode ser feito em casa”, explicou.
“Lembrando que tudo isso é respaldado por uma lei. Tanto o bullying, como o cyberbullying que também é muito comum nesse pós-pandemia, estão sendo colocados como um ato que não é aceito socialmente”, finalizou Fabiana.