Educação ambiental: entenda por que o ‘brincar heurístico’ é essencial no desenvolvimento das crianças
Educação ambiental: pedagogo comenta sobre o “déficit de natureza” entre os mais jovens e explica a importância das brincadeiras que envolvem investigação e descoberta
O contato com a natureza é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças por uma série de razões: estímulo dos sentidos, do desenvolvimento físico, da criatividade e da imaginação; redução do estresse; aprendizado sobre o meio ambiente; conexão com o mundo natural; entre outros benefícios.
Mas você conhece uma abordagem de aprendizagem específica chamada “brincar heurístico”? A palavra “heurístico” tem origem no grego heuriskein, que significa “descobrir”.
Tem a mesma raiz da expressão “eureka”, famosa pelo uso por Arquimedes quando descobriu o princípio do empuxo. Portanto, “heurístico” é algo que leva a uma possibilidade de descoberta, uma ideia que surge por meio da exploração ou investigação.
Segundo o pedagogo e psicanalista João Luiz Silva da Rosa, que estuda o campo da infância com enfoque em crianças entre 0 e 3 anos, o “brincar heurístico” é uma abordagem de educação infantil que enfatiza o uso de materiais e objetos do cotidiano como ferramentas de exploração e aprendizado.
Sendo assim, os brinquedos heurísticos permitem que as crianças explorem objetos comuns, como por exemplo, potes e tampas, oferecendo-lhes a oportunidade de ampliar seus pensamentos, estimular a criatividade, expandir sua percepção do mundo e experimentar diferentes sensações.
“O brincar heurístico possibilita a autonomia […]. Então todos os processos heurísticos que essa criança passar vão ajudar para que ela se torne um adulto crítico, participativo, cada vez mais pensante, ou seja, o brincar heurístico possibilita a autonomia e a construção do pensamento dessa criança”, revela João.
De acordo com o pesquisador, atualmente, muitos professores estão tendo contato com a abordagem, mas ainda existe muita resistência e falta de conhecimento sobre ela. Para João, as brincadeiras heurísticas ainda estão em processo de valorização no Brasil.
“Costumo dizer que quando uma criança brinca, a natureza sorri. É de fundamental importância que ela tenha o contato com aquilo que é natural, pois irá promover uma sensação de liberdade, curiosidade e vitalidade para as suas relações”, afirma.
João também é autor de dois livros que tratam deste tema. Em “Formações de narizinho”, há um capítulo sobre a importância de bebês e crianças brincarem com os elementos naturais – folhas, pedras, entre outros produtos da natureza.
Já na obra “Por infâncias vivas e vividas”, o escritor retrata a importância dos pequenos brincarem livremente, explorando os materiais que o ambiente natural oferece.
Segundo o pesquisador, a família é o primeiro meio social em que a criança está inserida, dessa forma, ela deve garantir que esse indivíduo brinque e se desenvolva. “Ter acesso à natureza também é uma tarefa que a família deve oportunizar, seja um piquenique na praça ou passear ao ar livre”.
Infelizmente, o número de crianças ansiosas, estressadas e com transtornos psicológicos cresceu. Segundo especialistas ouvidos pelo Terra da Gente, o “déficit de natureza” tem impactos diretos na socialização e desenvolvimento delas, afetando processos criativos e relacionamentos.
Além disso, quando se tem o acesso ao meio natural ainda na primeira infância, a criança exercita a criação de hipóteses, o raciocínio lógico, entre outras habilidades importantes.
“Desejo que os adultos entendam o impacto que o brincar heurístico tem na vida de cada criança e no seu desenvolvimento, para que possamos distribuir mais oportunidades ‘heurísticas’ para cada infância”.
“Precisamos alargar essas oportunidades, o contato com a natureza é urgente, estamos adoecendo nossas crianças com tantas paredes. O brincar heurístico é a vida viva e vivida por cada um de nós, a criança só tem a ganhar”, finaliza João.
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