Educação positiva: é possível pôr limites sem bater, gritar ou ameaçar

Veículo: O Tempo - MG
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Educação positiva: Criar crianças e adolescentes “no grito” não é educação. Além dos efeitos negativos, violar os direitos das crianças é crime
Além de aumentar a quantidade de cidadãos violentos, criar crianças e adolescentes “no grito” não é educação. “Por mais que a gente ainda escute: ‘Na minha infância me batiam e hoje sou normal’. Na prática, não educa. O que a gente observa é que isso causa algum transtorno emocional”, afirmou Meire Rose Cassini, especialista de saúde mental do Hospital Felício Rocho. Segundo a psicóloga, parte das crianças vítimas de violência atendidas na clínica atualmente tem algum nível de estresse ou quadro depressivo.
Não é assim que a pedagoga belo-horizontina Daniela Alves, de 42 anos, foi educada no passado nem como ela e o marido, o administrador Bruno Oliveira, de 47 anos, criam atualmente os dois filhos pequenos, Bento, de 8, e Dante, de 3. Ela lembra que, embora o próprio pai dela tenha “apanhado muito” na infância dele, ele quebrou o ciclo transgeracional da violência e nunca “encostou a mão” nela ou nas outras quatro irmãs, o que fez toda a diferença. “Ainda assim, havia muita autoridade”, contou.
Com os filhos, Daniela aplica a chamada “psicologia positiva” para a parentalidade, uma educação baseada no respeito às emoções da criança. “Não se trata de uma educação sem o ‘não’, sem limites, que a criança corre solta. Tem tudo isso, mas de uma forma dialogada, com firmeza e gentileza. A gente precisa validar as emoções das crianças e entender de onde vêm as negativas”, disse.
Crime
Além de todos os malefícios, a violência contra crianças e adolescentes é crime, como explica Raquel Coelho, professora de direito e coordenadora do Núcleo de Estudos Aplicados, Direito, Infância e Justiça (Nudijus) da Universidade Federal do Ceará (UFC). “Há uma preocupação natural da sociedade, pós-Constituição de 1988, que estabeleceu que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, ou seja, eles precisam ser escutados, eles são protagonistas também da história deles, do caminho deles, eles não são mais pessoas tuteladas, são sujeitos de direitos”, afirmou.
Pena
Para agressão, por exemplo, a pena é de dois meses a um ano de detenção e multa. Se for contra menor de 14 anos, a pena é aumentada em 2/3
Comunicação não violenta é auxílio
Uma ajuda para conseguir resolver conflitos com crianças de forma construtiva é a partir da Comunicação Não Violenta (CNV), técnica desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Bertram Rosenberg. De acordo com Mara Duarte da Costa, neuropedagoga e psicopedagoga, é importante chamar a criança, fazer perguntas e levá-la a achar respostas.
“Se aconteceu algo na escola, converse: ‘O que você não fez que poderia ter sido feito? Será que existe outra forma de dar uma resposta para seu amiguinho, em vez de gritar e berrar com ele? Será que teria outra forma de você se relacionar com esse amiguinho? Então você vai chegar à escola e pedir perdão para esse amiguinho’”, sugeriu Mara.
Lei Menino Bernardo
Em 2014, Bernardo Boldrini, de 11 anos, foi espancado e morto pelo padrasto em Três Passos (RS). Antes disso, o menino havia pedido ajuda, mas um delegado considerou que o agressor agiu com educação “mais tradicional”. O caso chocou o país: o ECA foi alterado para garantir o direito de crianças serem educadas sem o uso de castigos físicos ou tratamento degradante.
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