Entidades apontam que crianças brasileiras estão em risco frente à alta da covid-19
Com o crescimento de casos de covid-19 no Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Imunizações alertam que crianças e bebês estão sob risco iminente. As duas entidades divulgaram nota cobrando “enfaticamente” a imediata disponibilização de vacinas para toda a população maior de 6 meses de idade.
O documento ressalta que o Programa Nacional de Imunizações precisa incluir doses para esse público em geral e não só para pequenos e pequenas com comorbidades. No texto, as entidades citam a necessidade de cumprimento do artigo 227 da Constituição Federal, que exige que o estado promova programas de assistência integral à saúde de crianças e adolescentes.
“Expressamos nossa posição veemente contrária à vacinação somente de crianças com comorbidades, estratégia de difícil execução, especialmente nas regiões mais carentes do país, justamente onde mais se necessita da proteção vacinal.”
A imunização de bebês a partir de 6 meses de idade está autorizada pela Anvisa há cerca de dois meses, com uso do imunizante Comirnaty da Pfizer. Ainda assim, o Ministério da Saúde só iniciou a distribuição da vacina no último dia 10. Somente agora alguns estados e municípios conseguiram receber as doses para abrir o processo.
“O atraso no início da vacinação, de forma inexplicável, continua, especialmente em momentos de aumento de circulação viral, como o atual, trazendo enormes impactos na saúde de nossas crianças. É evidente o iminente risco da Covid-19 na população pediátrica”, diz o texto.
Atraso em outras faixas etárias
Dados divulgados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na quarta-feira (16) apontam que apenas 5,5% das crianças de 3 e 4 anos que vivem no Brasil tiveram acesso à primeira fase do esquema vacinal contra a covid-19, que inclui a primeira dose e a dose de reforço.
Segundo análise dos números do Vacinômetro Covid-19 do Ministério da Saúde, até 7 de novembro de 2022, pouco mais de 300 mil pessoas nessa faixa etária estavam com a proteção atualizada e menos de um milhão receberam a primeira dose. O país tem cerca de 5,9 milhões de crianças dessa idade que deveriam ser imunizadas.
O levantamento foi feito pelo Observa Infância (Fiocruz/Unifase) e mostra uma realidade “preocupante”, que persiste mesmo quatro meses após a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aplicação da Coronavac em crianças pequenas.
“Até junho de 2022, o Brasil registrava uma média de 2 mortes diárias por Covid-19 entre crianças menores de 5 anos. Desde a aprovação da Pfizer pediátrica pela Anvisa, em 16 de setembro, 26 crianças menores de 5 anos já morreram em decorrência da doença, o equivalente a dois óbitos a cada três dias”, afirma a coordenadora do Observa Infância, Patricia Boccolini.
Os resultados foram avaliados pela iniciativa VAX*SIM, que cruza grandes bases de dados para investigar o papel das mídias sociais, do Programa Bolsa-Família e do acesso à Atenção Primária em Saúde na cobertura vacinal em crianças menores de cinco anos.
Esse mesmo grupo tem sido responsável por apontar o atraso da cobertura vacinal em geral entre as crianças brasileiras. Nos últimos anos, o país não conseguiu atingir nenhuma das metas estabelecidas, o que trouxe de volta doenças graves e que tinham sumido do território nacional, como o sarampo.