Escola, língua, costumes: como as crianças são importantes na adaptação de pais estrangeiros que vieram recomeçar a vida no Brasil

Veículo: Globo.com - BR
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Estudo da USP feito com refugiados de 7 a 12 anos mostra que as crianças são protagonistas na adaptação das famílias no país

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Foto: Reprodução/TV Globo

O Profissão Repórter desta terça-feira (19) mostrou como as crianças são importantes na adaptação de pais estrangeiros que vieram recomeçar a vida no Brasil.

Um estudo da USP feito com refugiados de 7 a 12 anos afirma que as crianças são protagonistas na adaptação das famílias no Brasil. A pesquisa compara a situação de imigração e refúgio com o processo de luto.

“Quando a criança está bem, está sendo bem acolhida, está feliz, conseguindo traçar os seus desafios na escola e na vida, ela vai conseguir estar junto com essa família nas vivências das dificuldades de adaptação que essa família vai ter”, destaca Gleise Sales Arias, psicóloga do Instituto de Psicologia da USP.

Menina afegã frequenta escola pela 1ª vez no Brasil

Desde o início de 2022, mais de 6 mil afegãos já acamparam em barracas improvisadas no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Segundo dados da ANAC, mais de 3,3 mil dessas pessoas foram para abrigos de acolhimentos, sendo 1.800 crianças.

“A gente observa que as pessoas chegam, de forma geral, em grande maioria, em grupos familiares e dessas pessoas que chegam, cerca de 30% são crianças”, afirma Thais Menezes, oficial de proteção da ACNUR em São Paulo.

Os primeiros refugiados afegãos com crianças foram acolhidos pela organização Aldeias Infantis SOS, localizada em Poá, na Grande São Paulo. Atualmente, cerca de 90 afegãos estão vivendo no abrigo, sendo metade deles crianças.

A equipe conheceu uma menina afegã de 7 anos, que mora no abrigo com os pais e duas irmãs. Há pouco mais de um ano que chegou ao abrigo em Poá, a menina começou sua primeira experiência escolar no Brasil, após o Talibã proibir mulheres de frequentar escolas no Afeganistão.

“É que eles [Talibã] não deixam ir para a escola”, ela afirma.

A dificuldade enfrentada por haitianos para trazer família ao Brasil

m São Paulo, a equipe visitou a instituição Missão Paz, que atende em média oito mil pessoas entre adultos e crianças de vários países diferentes por ano. Desde 2010, a instituição já acolheu 37 mil haitianos.

“O grande desafio atualmente é reunião familiar. Muitos deles que querem trazer os filhos, a esposa, o pai, a mãe, um irmão e tem dificuldade para fazer isso”, destaca o padre, Paolo Parise.

Em abril de 2023, o governo brasileiro publicou uma portaria para agilizar a concessão de visto de reunião familiar para haitianos que moram aqui e deixaram os parentes na terra natal. O Urbain Louis, que está no Brasil há oito anos, é um deles.

Ele deixou dois filhos no Haiti, uma menina de 25 anos e um menino de 12, e fez o pedido para a reunião familiar no ano passado. Na instituição Missão Paz, ele soube que a situação ainda está em trâmite.

“Está complicado para mim. Trabalhando duro para mandar dinheiro. É muito tempo […] eu preciso estar com a minha família porque as coisas no Haiti não estão muito boas”.

Urbain trabalha de segunda a sábado nas ruas do Brás, vendendo roupas. Com o dinheiro das vendas, pretende trazer os filhos para morar no Brasil.

“Todo dia [meu filho] me liga chorando e eu tenho que trabalhar para pagar meu aluguel aqui e mandar dinheiro para lá”.

Irmãs afegãs se adaptam ao Brasil e à língua portuguesa

Em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, a equipe conheceu as irmãs Husna, de 8 anos, e Asma, de 5, que nasceram no Afeganistão e se mudaram com os pais para o Brasil há pouco mais de um ano. Por motivo de segurança, os pais delas não apareceram na reportagem.

A casa onde as meninas moram com os pais e um tio é de um brasileiro que permitiu que a família ficasse um ano no imóvel sem pagar aluguel.

Uma das principais dificuldades para os pais é aprender a língua portuguesa e a filha, Husna tem ajudado bastante neste processo. As irmãs chegaram ao Brasil sem saber falar nenhuma palavra em português.

Elas ganharam uma bolsa de estudos integral numa escola particular de Itaquaquecetuba e hoje, depois de um ano, as meninas afegãs já estão mais adaptadas ao Brasil e à língua portuguesa:

“Quando eu sentava junto com as meninas na hora do lanche, elas falam muitas palavras e aí eu ficava aprendendo na minha mente”, conta Husna.

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