Escritores mirins: quando a paixão pela literatura invade a infância
Entre bonecas, jogos e livros, a pernambucana Isadora sempre escolhe estes últimos como presente, desde que aprendeu a ler. O hábito, encorajado pelos pais, despertou nela a vontade de também escrever histórias. Aos oito anos, Isadora Nunes está entre os autores mirins que participam de encontro na Fliporto e autografam os próprios livros de estreia. O desejo de adaptar enredos vistos em filmes de terror, a familiaridade com a tecnologia (os textos são feitos no computador) e a admiração por expoentes da literatura infanto-juvenil, como Mauricio de Sousa e Ana Maria Machado, estão entre as motivações de Isadora para ingressar no ramo. A lista da garota reflete o apontado por pesquisadores em relação ao nicho: a idolatria por escritores consagrados e o domínio de recursos da internet propiciam o crescente surgimento de autores mirins. “Na França, essa tendência era comum na década de 1980, e nos Estados Unidos, também é mais antiga e difundida do que no Brasil. Aqui, muitos escritores de literatura infanto-juvenil viram celebridades, têm legiões de fãs, o que desperta no imaginário das crianças o desejo pela carreira”, opina o pedagogo e pesquisador de infância e juventude da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Hugo Monteiro. Segundo ele, a maioria dos autores mirins pertence a classes média e alta, o que facilita a publicação das obras, já que os pais assumem os custos através de edição independente. “Essas crianças têm mais acesso à internet. É um fenômeno recente, relacionado às redes sociais, aos blogs e e-books, que não existiam há 20 anos”, declara Monteiro. Pesquisa realizada pela instituição britânica National Literacy Trust ecoa a hipótese: entre 3 mil crianças, dos 9 aos 16 anos, entrevistadas, as que possuíam blogs ou perfis nas redes sociais foram avaliadas como donas dos melhores textos. Delas, 24% alimentavam blog próprio e 73% usavam serviços de mensagem instantânea. Monteiro pondera, no entanto, que a aptidão precoce não sinaliza, necessariamente, uma carreira longa no ramo. “Os autores mirins nem sempre têm repertório extenso como leitores. Muitas vezes estão apenas brincando, o que não deixa de ser uma experiência enriquecedora”, conclui. A contação de histórias e a visita a teatros, shows e concertos são, para ele, os principais estímulos que os pais podem oferecer aos pequenos.