Estado de São Paulo reduz gasto para formar professores
A gestão atual do governador Geraldo Alckmin (PSDB) gastou menos com os programas de aperfeiçoamento de professores do Estado. Entre 2012 e 2015, o recurso destinado ao treinamento dos docentes caiu 67,8%. Em 2012, foram destinados aos cursos R$ 86,9 milhões, em valores corrigidos pela inflação do IPCA até dezembro, ante R$ 28,9 milhões em 2015. No mesmo período, o total de gastos (liquidado) de toda a pasta subiu 5,7% – de R$ 28,03 bilhões para R$ 29,6 bilhões.
Com a redução, o número de inscrições também caiu. Eram 104,6 mil professores atendidos em 2012, ante 77,2 mil em 2015, queda de 26,2%. Em 2013, a rede chegou a ter 198 mil docentes participando de algum tipo de treinamento.
Todas as modalidades de curso perderam alunos. O ensino a distância (EAD), que responde pela maioria das inscrições, também teve queda. Em 2012, eram 73,2 mil vagas, número que avança para 164,5 mil em 2013 e 155,9 mil em 2014. Já em 2015, só 47,8 mil inscrições foram feitas. Os dados foram obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação.
A coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado (Efap), Valéria de Souza, admite que a crise econômica afetou o orçamento para os cursos, mas diz que o momento é de readaptação. Cursos que eram semipresenciais passaram a ser EAD, por exemplo. Ela disse ainda que não faltam vagas e que, em um período de três anos, todos os servidores da rede podem fazer ao menos um curso.
Um dos programas mais procurados e agora descontinuado no Estado é o Rede São Paulo de Formação de Docente (Redefor), feito em parceria com as três universidades estaduais paulistas – a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Entre 2010 e 2012, ao menos 25 mil docentes se inscreveram nos cursos de especialização oferecidos, que vão de aperfeiçoamento no ensino de suas disciplinas à educação inclusiva. Hoje, só a Unesp ainda mantém um grupo, com aulas semipresenciais para 1.600 alunos.
“A avaliação dos professores que fizeram o curso sempre foi muito boa, mas não foi possível a continuidade”, disse a coordenadora da Redefor na Unesp, Elisa Tomoe Moriya Schlünzen. De acordo com ela, professores da rede ainda procuram o programa. “A demanda é de pelo menos 17 mil alunos.” O custo, segundo ela, é de R$ 270 mensais por pessoa e a duração do curso é de dois anos.
Especial. A professora e coordenadora Claudia Anuatti, de 50 anos, fez o curso de educação especial na perspectiva da educação inclusiva e elogia o programa. “Ensinam toda a legislação voltada aos alunos com algum tipo de necessidade especial.” Na escola em que trabalha há 20 crianças com algum tipo de deficiência.
“O curso foi fundamental. Faço adaptações curriculares e dou orientações aos professores. Faz falta no dia a dia. É uma pena que haja poucas vagas”, diz. A professora também cita que hoje não estão mais disponíveis outros cursos, como o de inglês EAD (71 mil inscritos em 2013) e libras (20,3 mil inscritos em 2013).
A professora Regina Lúcia Moura, de 46 anos, entrou na rede estadual há dois e faz o curso para ingressantes na rede, a distância. O curso, diz ela, fala sobre o currículo do Estado e a forma como o material deve ser usado pelos alunos.
“Para quem leciona há mais tempo, não tem novidade. Mas, para quem está começando, ajuda muito. Se você espera aprender só na faculdade o que fazer na sala de aula, está perdido.”
Interesse. A pesquisa Conselho de Classe, feita em 2015 pela Fundação Lemann com professores de todo o País, mostrou que os programas de formação continuada docente são os mais citados quando questionados sobre o que fazer para melhorar a educação.
Em um universo de 1,9 mil professores, a estratégia é mencionada por 17% dos entrevistados como a principal medida, seguida por aumento no piso salarial (14%) e melhoria na carreira (10%).
O levantamento aponta ainda que, no último ano, sete em cada dez professores participaram de algum programa de formação, mas só menos da metade dos entrevistados teve o valor do curso custeado pelos governos.
Para o economista Ernesto Martins Faria, coordenador de Projetos da Fundação Lemann, uma das maiores preocupações do professor hoje é entender como ele realmente pode garantir a aprendizagem dos alunos. “Ele acaba vendo a formação complementar como algo importante para ficar mais seguro do que está quando sai da faculdade”, afirma.
Uma das maiores dificuldades nessa área, diz o pesquisador, é superar as lacunas dos cursos de licenciatura, que em muitos casos têm pouco diálogo com a prática na sala de aula.
“O professor alfabetizador, por exemplo, conheceu a teoria, mas não aprendeu como lidar com as crianças na pedagogia. Falta conhecimento de gestão de sala de aula. Os cursos de licenciatura poderiam ser mais práticos e trazer mais clareza quanto aos desafios que o professor vai enfrentar em sua profissão”, diz.
Governo diz que todo docente faz 1 curso a cada 3 anos
A coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado (Efap), Valéria de Souza, admite que a crise econômica provocou impacto nos programas, mas diz que adaptações garantem que, ao longo de três anos, todo professor possa fazer ao menos um curso. “Fazemos uma boa limonada com o limão que temos.”
Ela destacou que, com a diminuição nos recursos, a escola tem adaptado cursos já existentes nas modalidades presencial e semipresencial para serem totalmente a distância. Outra alternativa é retirar os tutores dos cursos EAD. “A ideia é potencializar o atendimento, independentemente do cenário econômico e político”, disse.
De acordo com Valéria, a redução no número de vagas é “sazonal” e muda segundo as demandas de cada ano. “Quando há contratação de professores, por exemplo, há o curso de ingressante. Neste ano, 27 mil profissionais estão fazendo o curso como ingressantes de disciplinas de ensino fundamental 2 e médio. É uma demanda que, se sobe, tem de atender.”
Ela disse ainda que o curso de inglês, que foi cortado, era uma aposta para a Copa do Mundo, pela alta demanda dos professores, mas que agora é oferecido só aos professores de inglês. Também há, segundo ela, maior fiscalização sobre a qualidade dos cursos. “Fazemos um levantamento para ver quais valem a pena. Estamos focando os que têm a ver com o currículo e a gestão em sala de aula. Tem de haver uma priorização.”