Estudo mostra que práticas parentais negativas aumentaram na pandemia
Uma pesquisa feita pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal concluiu que 67% dos pais recorreram pelo menos uma vez a palmadas, gritos ou chacoalhões em crianças durante a pandemia de Covid-19. A entidade aponta que isso pode ser consequência de uma sobrecarga dos pais no período.
No levantamento, foram entrevistados ao todo 1036 homens e mulheres – pais, mães, avôs, avós, tios, tias ou outros parentes – de todo o Brasil, entre 16 e 65 anos, e que representam as classes A, B, C e D.
O estudo “Primeiríssima Infância – Interações na Pandemia: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos em tempos de Covid-19” tinha o objetivo de analisar a relação dos responsáveis com as crianças. Ele foi elaborado com consultoria da Kantar Ibope Media.
Pais e mães representam 53% da amostra analisada. Destes, 67% declararam ter usado o que é chamado de práticas parentais negativas. Segundo os entrevistados, eles recorreram, ao menos uma vez, a gritos, chacoalhão ou palmadas, por exemplo. Entre as práticas consideradas negativas, eles ainda afirmaram ter pego com força pelo braço ou chamado a criança de burra ou chata.
Para Paula Perim, diretora de Comunicação da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, algumas peculiaridades da pandemia ajudam a explicar o quadro. “A sobrecarga de trabalho, o acúmulo de funções, o stress e a incerteza do momento de pandemia acabam elevando a tendência de uso de práticas negativas com a criança, embora essa não seja a regra”, analisa.
A Fundação já havia realizado um estudo para analisar a relação de responsáveis e crianças antes da pandemia. Na ocasião, 10% dos entrevistados relataram o uso de palmada. Na versão de agora, esta prática foi usada por 33% como medida disciplinar quando a criança faz birra ou não obedece.
Apesar da possibilidade de o uso de práticas negativas em momentos de estresse e situações de vulnerabilidade registrarem aumento durante a pandemia, a pesquisa mostra que boa parte dos cuidadores demonstraram preferência por práticas educativas positivas, como explicar o comportamento errado à criança (89%), distrai-la para tirar o foco da questão (94%), e conversar mostrando riscos e consequências (84%).
O levantamento fez ainda um recorte socioeconômico que aponta que medidas mais agressivas são pouco utilizadas especialmente pelo grupo AB1 – dar umas palmadas (22% AB1 e 39% D) e chamar a criança de burra ou chata (8% AB1 e 17% B2C Básica RM). O grupo D é o menos adepto a conversas. Enquanto 82% deste grupo explica para a criança que o comportamento dela está errado, nas classes AB1 esse percentual alcança 94%.