Exploração sexual faz 6 milhões de vítimas no mundo
Exploração sexual faz vítimas no mundo: mais da metade das crianças em condições de trabalho forçado estão na indústria ilegal do sexo
“Quando minha filha tinha 11 anos, ela chegou em mim e disse: –mamãe, sabia que existem meninas da minha idade que foram vendidas nesse país para fazer sexo?. Eu falei: “Acho que você se enganou. Isso não acontece aqui”. Quem conta essa história é a atriz Jada Pinkett Smith, que diz que se lembra de ter passado dias no computador, olhando história atrás de história, e constatando que sua filha tinha razão. “Não dava para acreditar que eu não soubesse”.
Foi dessa forma que ela tomou conhecimento de centenas de histórias de meninas e mulheres traficadas para sexo dentro de seu próprio país. E isso fez com que ela decidisse usar sua projeção para jogar luz sobre o problema. Parte deste esforço pode ser visto no CNN Freedom Project deste domingo, 16, às 21h30, com o episódio “EUA: Crianças à Venda”, em que ela conta parte das histórias que conheceu, e mostra quem são as pessoas que trabalham para mudar esse cenário.
Para Jada, é chocante saber que a maioria dessas meninas começa muito cedo – nos Estados Unidos, qualquer menor de idade envolvido em prostituição é considerado vítima de tráfico humano. Por isso, em equipes policiais especializadas, a abordagem é sempre tratá-las dessa forma, e não como criminosas.
Entidades envolvidas no combate à exploração sexual de menores dizem que não há um perfil específico de mulheres. “Não existe só um perfil. O que o comprador quiser o cafetão o traficante arrumará. No geral, acredita-se que seja uma menina ou mulher jovem nas ruas com salto alto e roupas provocantes, mas ela pode estar de macacão, ou calça jeans, blusa e mochila, porque é a fantasia do cara que quer comprá-la naquele dia“, conta Lisa Williams, fundadora da Living Water for Girls, um programa que oferece assistência em saúde mental e física, além de serviços educacionais para vítimas do tráfico.
O sargento Torrey Kennedy, da Polícia da Geórgia, diz, porém, que há várias estratégias de abordagem. “Ninguém se disfarça e diz: -venha trabalhar para mim. Não. Eles dizem: “oi, sou recrutador de talentos. Você é bonita. Quero fazer um vídeo seu e passar para os meus colegas. Depois vemos no que dá“, explica ele, que comanda uma unidade de crimes na internet contra crianças.
Por isso, jovens que vivem em condições de vulnerabilidade estão mais suscetíveis. “Elas fogem de um lar em que não são valorizadas Sofrem algum trauma em casa e estão infelizes com a situação. Elas querem fugir. Então eles mostram a elas uma vida boa por uns dois dias, e aí já era”, conta a psicóloga forense Anique Whitmore.
Vulnerabilidade e exploração
Sacharay, como quer ser conhecida, sabe bem o que é isso. Criada somente pela mãe, e vítima de bullying na escola, ela se sentia solitária. “Eu costumava ser muito criticada por minha pele escura. Comecei a usar óculos e fui chamada de ‘quatro-olhos’. Mas quando uma colega mais velha se aproximou dela, Sacharay pensou que enfim teria uma amiga em quem confiar. “Um dia ela perguntou se eu queria matar aula e me divertir, sabe, então fomos a uma barbearia. Quando eu estava lá, ela me apresentou a esses caras”, disse Sacharay, na época com 14 anos. Um dos homens imediatamente a notou, e começou a cortejá-la com presentes e elogios e oferecer conselhos sobre os dramas diários da vida adolescente. “Se eu e minha irmã estivéssemos discutindo, ele diria: –Você não pode discutir com sua irmã assim”, ela lembra.
Logo, o homem começou a lhe pedir “favores”: ela o ajudaria a ganhar algum dinheiro, dormindo com outro homem. Não demoraria até que ela começasse a fazer sexo com vários homens todos os dias. “Fiquei chateada quando percebi o que ele estava fazendo, mas continuei fazendo porque ele me fazia sentir especial.”
Essa contradição entre a sensação de segurança e humilhação da exploração pode causar estragos na mente de um adolescente, e prolongar o quadro de abuso, segundo a psicóloga Anique Whitmore. “O que é semelhante a algumas dessas meninas com quem trabalho é a autoestima ou a falta dela. Você se torna vulnerável a um homem na rua ou a um homem que conhece na escola. Você se torna vulnerável porque está procurando atenção. Quer se sentir amada”.
A solução para problemas como esse são complexos, mas Whitmore explica que tudo está na base da educação. “O segredo é elevar a pessoa para que ela siga um rumo na vida em que possa fazer e ser o que quiser. Deixe que eles entendam e desenvolvam quem eles são. Quem tem essa base, não será tão facilmente pressionado, ou facilmente seduzido”, conclui.
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