Formação de professor fica longe da realidade da escola

Veículo: Folha de S. Paulo - SP
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A qualidade do que se ensina nas escolas puxa o Índice de Desenvolvimento Humano brasileiro para baixo e coloca o Brasil no fim da lista de países em termos de qualidade de ensino de ciências e de matemática. As causas desse cenário dividem a opinião de educadores, gestores e especialistas. Muitos, no entanto, concordam que um dos gargalos da educação está justamente na formação do professor. De acordo com especialistas, o que se ensina nos cursos de pedagogia (que formam quem dá aula para as crianças de seis a dez anos, do ensino fundamental 1), e nas licenciaturas (que graduam os docentes dos jovens de 11 a 17 anos, do fundamental 2 e do ensino médio) está bem longe da realidade encontrada na escola. Isso porque os estágios ocupam, em média, 10% da carga horária da graduação para formar professores. Em países como os EUA, a relação é oposta: a maioria das disciplinas é prática.

Falta referência nacional para currículo nas escolas – Está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): o currículo da educação básica do Brasil deve ter uma "base nacional comum", a ser acrescida de outros conteúdos a partir da realidade local, a critério de cada escola. Para especialistas, entretanto, não é o que acontece: falta uma referência verdadeiramente nacional e específica sobre o conteúdo que estará na lousa do professor. Hoje, afirmam, não há uma clareza sobre quais conhecimentos serão repassados. Que clássicos devem ser lidos? Que momentos históricos devem ser aprofundados? "Se você adota um currículo detalhado, no dia seguinte você passa a cobrar resultados. É uma ferramenta muito poderosa de controle social", afirma Ilona Becskeházy, consultora de educação. Outros argumentam que detalhar demais pode engessar o trabalho do docente em sala de aula e, no fundo, demonstra desconfiança sobre a formação do professor.