Guia fotográfico digital e gratuito aproxima crianças da natureza através da arte

Veículo: Globo.com - BR
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Entre todos os grupos de animais da fauna mundial, os insetos são os mais numerosos. Importantes para a manutenção dos ecossistemas, são também as espécies que passam despercebidas na maioria das vezes, uma vez que as aves e os mamíferos ganham os holofotes dos observadores e admiradores da natureza.

O que dificulta ainda mais a popularidade desses pequenos operários da biodiversidade é a falta de informação, já que a quantidade de espécies desafia o conhecimento detalhado de todas elas.

Pensando em diminuir essa distância entre as pessoas e os insetos a artista plástica Camila Hein elaborou um guia estético de plantas e insetos da Mata Atlântica. “Esse é um projeto pessoal que partiu do meu interesse enquanto artista e fotógrafa de natureza. A necessidade de partilhar um universo tão interessante e desconhecido, assim como a compreensão de que devemos viver de forma harmônica com todos os seres, foram os fatores que me incentivaram”, conta.

A ideia é aproximar crianças e adultos da natureza, que por vezes passa despercebida — Foto: Pequeno Guia Estético de Insetos e Plantas da Mata Atlântica

Com a ideia formatada foi preciso colocar a ‘mão na massa’ e intensificar uma prática comum na vida de Camila há, pelo menos, quatro anos. “Fotografo plantas e insetos desde 2016, quando vendi meu apartamento no centro de Pelotas (RS) e comecei a frequentar a cidade de Maquiné (RS). Portanto, todas as fotografias do guia são minhas, assim como o texto, feito por mim em parceria com meu companheiro, Lúcio Canabarro”, conta.

Eu morei a maior parte da minha vida na cidade e hoje percebo que este ambiente é um grande deserto do ponto de vista dos insetos e diversidade de plantas, e nela ignoramos os universos dos quais dependemos

— Camila Hein, artista plástica

Diferente dos tradicionais guias de identificação de espécies, o guia estético ensina através da arte — Foto: Pequeno Guia Estético de Insetos e Plantas da Mata Atlântica

Em formato digital, o guia conta com 10 fotos de plantas e 12 de insetos, todas apresentadas em detalhes estrategicamente pensados para prender a atenção do leitor. “Comecei a escolha das fotografias buscando trabalhar com conceitos básicos como cor, texturas e linhas. Também considerei quais fotografias poderiam despertar mais interesse a partir das informações visuais”, detalha Camila, que dedica o projeto ao público infantil, principalmente.

“O mais importante para mim era apresentar espécies a partir de suas curiosidades estéticas, por isso, optei por dados que eram acessíveis e uma linguagem didática que atingisse não só as crianças, mas todas as idades, afinal, percebo que meu conhecimento sobre plantas e insetos é muito básico, mas que esse não é um problema só meu: nós conhecemos muito pouco sobre o mundo que no rodeia”, completa.

O contorno em branco foi estratégia da artista para chamar atenção do leitor — Foto: Pequeno Guia Estético de Insetos e Plantas da Mata Atlântica

A fotógrafa explica a escolha da Mata Atlântica de forma muito simples: relevância e conexão. “O bioma é um dos mais ameaçados do mundo e muitas cidades brasileiras estão inseridas nele. A escolha se deu por ser a minha casa e eu escolhi esse lugar para morar por conta da minha relação afetiva com o mato, ainda criança, quando ia para os rios com meus familiares. É por isso que acredito tanto na importância de aproximar as crianças da natureza”, diz.

Tenho uma preocupação grande com os pequenos, tanto as crianças como os insetos. Penso que não estamos, enquanto humanidade, dando a devida atenção para estes

— Camila Hein, artista plástica

Ela revela ainda que “fugir” de informações técnicas e específicas das espécies foi uma alternativa para envolver o leitor em questões básicas que instigam muita gente. “Quantas árvores você consegue lembrar o nome, saber de onde são, que época dão flores? Para onde vão as cigarras quando não estão cantando? Como pode uma lagarta vermelha virar uma borboleta azul? Estas são questões que me interessam, porque são simples e ao mesmo tempo detém conhecimentos complexos e desconhecidos”, reforça Camila.

Depois de consultar o guia as crianças podem realizar uma série de atividades propostas — Foto: Pequeno Guia Estético de Insetos e Plantas da Mata Atlântica

Arte e natureza

Diferente dos tradicionais guias de identificação de espécies, o guia estético de Camila ensina através da arte. Entre as estratégias utilizadas na diagramação do material, a artista plástica investiu no contorno de algumas fotos com linhas brancas. “Usei linhas brancas para acrescentar informação e direcionar um pouco o olhar do leitor, brincando e agregando conhecimento”, explica.

“Esse guia foi pensando a partir do meu olhar do campo da arte, por isso não tem a pretensão de ser um guia como os outros, com ênfase somente na biologia, mas sim criar uma aproximação do olhar a partir da beleza e da curiosidade”, completa a fotógrafa de natureza, que espera colaborar com a conservação das espécies através de projetos como esse. “A ideia é ampliar o projeto e seguir buscando esse diálogo entre arte e natureza, de forma que possamos aumentar nosso repertório e mobilizar as pessoas pela causa da conservação de todas as espécies”, diz.

O que às vezes eu acho lindo, para outras pessoas pode ser assustador, como as lagartas por exemplo. Mas não podemos negar que elas têm cores lindas, texturas impressionantes. Quando perdemos biodiversidade também perdemos diversidade estética e a possibilidade de termos um maior repertório em todos os campos

— Camila Hein, artista plástica

Todas as fotos e os textos são de autoria da artista e fotografa de natureza, Camila Hein — Foto: Pequeno Guia Estético de Insetos e Plantas da Mata Atlântica

Próximas etapas

O guia, que contou com a revisão de especialistas do projeto Insetos do Brasil, está disponível na internet para download gratuito, mas a expectativa é eternizá-lo no papel. “Estamos em busca de recursos para a versão impressa e para uma versão em inglês, pois houve interesse do guia fora do País. Há também a intenção de realizar um outro trabalho chamado ‘O Caminho do rio’, um levantamento fotográfico de todo o percurso das águas do rio Maquiné, mostrando a rica biodiversidade e diversidade paisagística da região”, revela Hein.

“Nós somos natureza, somos todos habitantes deste lindo planeta azul. Trabalhar com o meio natural é hoje mais que urgente. Vivemos em um tempo de urgência fruto da maneira como nossa espécie se relaciona com seu entorno. Estamos a viver a sexta extinção em massa da história da Terra e caso nada seja feito nossa própria espécie pode estar em perigo, ou seja, como hoje não estar totalmente envolvido com este tema?”, finaliza.

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