Infância plastificada: entenda os riscos do excesso de brinquedos plásticos na saúde das crianças
A infância é uma fase repleta de descobertas para as crianças, e os brinquedos desempenham um papel fundamental nesse universo lúdico. No entanto, especialistas em saúde e meio ambiente têm levantado preocupações sobre os potenciais riscos do excesso de brinquedos plásticos no desenvolvimento infantil e na sustentabilidade do planeta Terra.
Uma recente pesquisa do “Programa Criança e Consumo”, realizada pelo Instituto Alana, revelou que o impacto ambiental gerado pelo excesso de consumo de brinquedos e suas embalagens plásticas é resultado de um ciclo complexo que começa ainda na publicidade infantil, despertando o desejo de possuir determinado brinquedo, mas sem a devida percepção sobre um consumo consciente.
A sobrecarga de exposição publicitária desperta na criança a insaciedade de possuir todo tipo de novidade. Além do acúmulo de plásticos e pilhas dentro de casa, há também falhas no descarte, o que vem impactando no acúmulo desastroso de resíduos no meio ambiente.
Um dos principais dados da pesquisa mostrou que 90% dos brinquedos produzidos mundialmente são feitos com algum tipo de plástico que, segundo o World Wide Fund for Nature (WWF), pode permanecer no meio ambiente por até 500 anos. Além disso, só 9% do plástico que é produzido é, de fato, reciclado.
Consequências podem ser desastrosas
No lento processo de decomposição, o plástico se transforma em micropartículas que, por sua vez, podem vir a ser ingeridas por peixes voltados ao consumo humano.
Portanto, estes microplásticos, mais tarde, poderão entrar na corrente sanguínea de seres humanos que se alimentam desse tipo de carne.
Para se ter uma ideia do impacto disso, basta observar um recente estudo divulgado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) que aponta que cerca de 3,44 milhões de toneladas de plástico e isopor são lançados nos mares da costa brasileira anualmente. O consumo desenfreado do plástico não impacta apenas na segurança alimentar dos seres humanos.
Para o sociólogo e mestre em psicologia Alexandre Borges, a compra contínua e sem limites de brinquedos cria no imaginário da criança o sentimento de que tudo está ao seu alcance, basta pedir aos pais. Este acúmulo sem consciência alimenta no sujeito, desde pequeno, um sentimento de associação de bem estar pela ação de “comprar coisas” que são dispensáveis no dia a dia. Esse é o ritmo frenético da indústria que impõe cada vez mais o consumo, através da criação de pseudonecessidades que não têm fim.
Soluções que podem gerar impacto positivo
Para diminuir os riscos dos brinquedos de plástico e estimular o consumo mais consciente, alguns caminhos podem ser seguidos como ações de incentivo ao brincar na natureza ou até mesmo a troca e doação de brinquedos.
Um casal de pais, especialistas em saúde e educação, elaboraram a plataforma “Meu Nascimento”. Dra. Ana Jannuzzi é médica pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e possui pós-graduação em Pediatria, enquanto Alexandre Giannico Borges é sociólogo e atua como educador e pesquisador pela USP (Universidade de São Paulo) na área de psicologia do desenvolvimento humano.
Presentes como fraldas, roupas e brinquedos são comprados por amigos e familiares, mas não são entregues em seu formato físico, pois são convertidos em dinheiro na conta corrente dos pais da criança. A plataforma, então, permite aos pais mais autonomia e controle nos gastos excessivos com brinquedos.
Um alerta sobre os plásticos presentes nos brinquedos
Co-fundadora do projeto, a médica Ana Jannuzzi faz um alerta e ressalta que os brinquedos plásticos são prejudiciais para a saúde das crianças, já que muitos são produzidos com PVC (policloreto de vinila), PC (policarbonato), Bisfenol A (BPA), Bisfenol S (BPS), Bisfenol F (BPF) e ftalatos. Substâncias que são reconhecidamente tóxicas e que podem causar danos hormonais e até cânceres em crianças.
Dados do Projeto TENDR, conduzido por profissionais de saúde nos Estados Unidos, revelou que os chamados ftalatos – que estão presentes nos brinquedos infantis -, trazem riscos de distúrbios de atenção, aprendizado e podem alterar o comportamento das crianças.
“Acredito que temos que refletir se, por trás desse consumo desenfreado, está um problema ainda maior, que é o consumo material para substituir a presença dos pais. Ou seja, para compensar suas ausências, os tutores acabam fazendo a vontade dos filhos e se rendendo ao capitalismo e à publicidade infantil de brinquedos. A pesquisa do Instituto Alana indica que uma boa alternativa para diminuir este problema é reduzir o uso de telas e dispositivos, limitando assim o contato da criança com as propagandas de brinquedos, que são muito comuns em TVs e plataformas digitais”, finaliza a médica.
Barbies da Mattel são feitas de plástico retirado do oceano
Com a tendência “barbiecore” em alta, é importante lembrar que, em 2021, a Mattel lançou uma nova linha de Barbies feitas de plástico que, de outra forma, se tornariam resíduos do oceano. A coleção foi chamada de “Barbie Loves the Ocean”.
A empresa de brinquedos se associou à empresa de reciclagem de plásticos Envision Plastics, uma importante recicladora de produtos HDPE (plástico polietileno de alta densidade).
“Nossos esforços de sustentabilidade representam o próximo passo na missão e evolução social da Barbie”, disse Lisa McKnight, vice-presidente sênior da Mattel (MAT) e chefe global do portfólio de bonecas e Barbie da empresa, à CNN Business.
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