Insegurança alimentar atinge 46% das crianças e adolescente em Pernambuco

Veículo: Jornal do Commercio - PE
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O estado de Pernambuco apresentou índices melhores para crianças e adolescentes com alguma privação nos últimos anos. De acordo com o relatório “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil”, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em 2019, quase 70% delas tinha algum direito básico negado e, em 2023, o número caiu para 64%.

Apesar dos avanços, o estado ainda tem um índice alto em relação à insegurança alimentar: 46,2% dos menores em Pernambuco estavam nessas condições em 2023.

O número cresceu em relação a dez anos antes. De acordo com o mesmo estudo, em 2013, 36,2% das crianças e adolescentes viviam em algum nível de insegurança alimentar. Já em 2018, o mesmo índice chegou a 60,7%.

O relatório associa esse aumento à elevação nos preços dos alimentos em todo o país. Em 2013, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) registrou que o nível dos preços era 9,7%, passando para 10,8%, em 2018, e alcançando os 23,9%, em 2023.

“Esse fenômeno pode estar por trás do porquê de a insegurança alimentar continuar tão prevalente, apesar dos aumentos na renda do trabalho e das transferências de renda durante o período. O custo crescente dos alimentos impõe às famílias um fardo significativo, especialmente na faixa de baixa renda, dificultando o acesso regular e adequado a uma alimentação nutritiva e suficiente” explica o relatório.

A chefe de Políticas Sociais do UNICEF no Brasil, Liliana Chopitea, explica que a pobreza na infância é multidimensional e vai além da renda. “Ela é resultado da relação entre privações, exclusões e vulnerabilidades que comprometem o bem-estar de meninas e meninos. Crianças e adolescentes precisam ter todos os seus direitos garantidos de forma conjunta, já que os direitos humanos são indivisíveis”, pontua.

Em nota, o Governo do Estado afirmou que o combate à fome é uma prioridade em Pernambuco, especialmente para as famílias em situação de vulnerabilidade social. A gestão pontuou que tem promovido ações como o Programa Pernambuco Sem Fome, que engloba os módulos Bom Prato, Mães de Pernambuco e o Programa Estadual de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar.

Ainda de acordo com o governo, o Bom Prato, por exemplo, superou a marca de 10 milhões de refeições servidas e aumentou o número de cozinhas comunitárias para 180, atendendo 36 mil pessoas diariamente.

Já o Mães de Pernambuco ofereceu, até o momento, R$ 300 mensais a mais de 111 mil mulheres gestantes ou responsáveis por crianças de até seis anos, enquanto o Programa de Aquisição de Alimentos investiu R$ 12 milhões no fortalecimento da agricultura familiar.

“Essas ações integradas refletem o compromisso do Governo de Pernambuco em promover a segurança alimentar e nutricional, com especial atenção às necessidades de crianças e adolescentes”, destaca o Governo de Pernambuco.

Índices no Brasil

O estado acompanhou as variações dos dados no Brasil. Dentre os períodos analisados, o menor nível de insegurança alimentar entre crianças e adolescentes ocorreu em 2013 no país (4,9%) – em 2009, o número ultrapassou os 8%.

Em 2018, o total de menores pesquisados que sofriam de insegurança alimentar grave era 7,4%; e em 2023, pouco mais de 5%.

Quando são incluídas as crianças e adolescentes que enfrentam qualquer tipo de insegurança alimentar, a variação foi significativa: de 33,5%, em 2013, para 50,5%, em 2018, e 36,9%, em 2023.

“Tais resultados alinham-se a uma melhora recente na insegurança alimentar verificada na América Latina, que resulta de maiores transferências de renda, mas com níveis ainda superiores àqueles registrados no início dos anos 2010”, analisa o estudo.

Insegurança alimentar no Brasil tem cor

O relatório do UNICEF ainda analisa os índices das crianças e adolescentes que vivem com alguma privação a partir das raças e apontam para uma disparidade entre brancos e negros.

Em 2018, mais de 58% dos menores negros viviam em situação de insegurança alimentar. Entre os brancos, no mesmo ano, o índice foi inferior a 40%.

A pesquisa afirma que “essa população continua a enfrentar insegurança alimentar grave e geral em taxas substancialmente mais altas, ilustrando a necessidade de políticas focadas na redução de desigualdades raciais significativas no acesso a direitos básicos, como é a alimentação”.

De acordo com o Ministério da Saúde, a insegurança alimentar pode ser dividida em três categorias:

  • Insegurança alimentar leve: quando há redução na qualidade da alimentação além da preocupação de que possa faltar alimento em um futuro próximo;
  • Insegurança alimentar moderada: quando há restrição quantitativa de alimentos;
  • Insegurança alimentar grave: quando há deficiência quantitativa de alimentos, podendo ainda incluir a experiência de fome.

 

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