Inserção de atividade física no dia a dia ajuda a ir bem na escola

Veículo: Folha de S. Paulo - SP
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Seu filho está com problemas nos estudos? Pare de pagar a perua escolar e compre uma bicicleta para ele ir à escola, ou, pelo menos, faça-o andar bastante e praticar esportes em vez de ficar o dia inteiro sentado estudando.

Isso porque a prática de atividades físicas por crianças e jovens afeta positivamente memória, bem-estar psicológico e inclusão social, diz o documento que ficou conhecido como “Consenso de Copenhague”.

O consenso foi assinado em abril por 24 pesquisadores de diversas áreas (educadores físicos, médicos, pedagogos e nutricionistas) reunidos na Dinamarca e publicado nesta semana pela revista científica “British Journal of Sports Medicine”.

Em comum, eles têm a opinião de que a prática esportiva traz, além dos benefícios físicos, ganhos no desenvolvimento intelectual e integração social de crianças e adolescentes entre seis e 18 anos.

“O jovem que pratica atividade física depois da escola tem mais facilidade em memorizar o que foi aprendido durante a aula”, exemplifica um dos signatários do documento, o especialista em fisiologia do exercício Peter Krustrupp, da Universidade de Copenhague (Dinamarca).

A atividade física – definição que abarca prática de esportes, brincadeiras recreativas ou ir de bicicleta à escola, por exemplo – age positivamente na formação de estruturas cerebrais, como o hipocampo, segundo Charles Hillman, professor da Universidade de Illinois (EUA).

Segundo o pesquisador, o tamanho da estrutura não é sempre relacionado a processos cognitivos específicos, mas acredita-se que é um bom indicador da saúde cerebral. “Publicamos dados mostrando que crianças mais saudáveis têm hipocampo mais volumoso e têm desempenho melhor em tarefas específicas de memória que se mostraram dependentes dessa região do cérebro”, diz.

Na prática

Os especialistas não querem saber de miséria e recomendam a prática de atividades e de esportes ao longo de todo o dia: antes, durante e depois da aula.

De acordo com Krustrup, o ideial é que a criança pratique 60 minutos de atividades físicas menos intensas diariamente (uso de bicicleta ou caminhada para ir à escola, por exemplo). Elas devem ser somadas à prática de atividade de alta intensidade, como uma arte macial, em três sessões de 30 minutos por semana.

Por outro lado, fatores socioeconômicos podem influenciar a participação das crianças em atividades físicas. Entre essas causas estão a falta de habilidade, limitações físicas, orientação sexual ou gênero.

“A gente sabe, por exemplo, que pessoas mais pobres tendem a fazer menos exercícios do que as mais ricas e que meninas tendem a fazer menos exercícios do que os meninos”, diz Krustrup.

Para o cientista, isso deve servir para as autoridades planejarem políticas de incentivo ao esporte. “Eles devem pensar em como engajar mais esse público [de pessoas mais pobres e de meninas]”, comenta.

Por isso, ele defende que esses grupos devem ser privilegiados na formulação de políticas de incentivo ao esporte.