Invisibilizadas, crianças negras neurodivergentes têm infância marcada por desafios
Especialistas alertam que diagnóstico tardio e ausência do acompanhamento adequado podem afetar desenvolvimento cognitivo na primeira infância
O palestrante e professor de Paternidades Pretas na Pós-graduação Crianças, Adolescentes e Famílias do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), Humberto Baltar, de 43 anos, é pai de Apolo, de cinco. Assim como o filho, ele é neurodivergente.
O educador, que fundou o coletivo Pais Pretos Presentes com a esposa, Thainá Baltar, tem Transtorno do Espectro Autista, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), altas habilidades e superdotação (AHSD) e dislexia. Já o seu pequeno é autista não verbal — não se comunica por meio de gestos, expressões faciais, movimentos corporais e outros. Em entrevista à Alma Preta, Humberto Baltar relata as dificuldades e os desafios enfrentados até o diagnóstico.
“A dificuldade de encontrar o diagnóstico, o tratamento e informações sobre o autismo foi absoluta. Sou professor no Rio de Janeiro e na minha formação não tive informação nenhuma sobre o espectro autista enquanto educador e a gente está se preparando para acolher crianças na escola”, ressalta o profissional, que também é consultor de ESG e diversidade e inclusão.
Ele relata que sente falta de acesso a serviço especializado no Sistema Único de Saúde (SUS) e na rede privada de saúde. “Você não encontra terapeuta específico para tratar o autismo, os pediatras em geral não conhecem o espectro autista”, conta e cita como exemplo um pediatra que atende seu filho, que mesmo localizado na Zona Sul, área rica da capital fluminense, não tem especialidade em TEA.
O docente afirma que dentro do coletivo o qual é fundador existe um espaço para compartilhamento de informações sobre tratamento a custo popular, gratuito por meio do SUS, direitos e oportunidades para pessoas neurodivergentes. A iniciativa surgiu por conta da necessidade de famílias atípicas, assim como a dele, de ter acesso a esses conhecimentos.
Baltar também percebe a diferença no tratamento e acolhimento de crianças negras neurodivergentes. Ele afirma que as pessoas não percebem que o filho é autista porque não existe um olhar humanizado para crianças negras.
“A sobrecarga da parentalidade atípica é muito cansativa. No meu caso, essa responsabilidade recai ainda mais sobre mim, pois preciso buscar um acolhimento humano para o meu filho. Infelizmente, o que encontramos na maioria das vezes é uma completa invisibilização da criança preta neurodivergente”, destaca.
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