Mães querem dar a filhos com deficiência a chance de morarem sós

Veículo: Folha de S. Paulo - SP
Compartilhe

Nicolas tinha 14 anos quando decidiu ir sozinho à papelaria do bairro. A mãe, Flávia, permitiu, mas escondida atrás de árvores e postes, acompanhou a trajetória do filho até o local. Sete anos se passaram e hoje, Nico, 21, que tem traços de autismo, trabalha em uma biblioteca em Brasília e pensa em morar sozinho. Para muitas mães de jovens como Nicolas, é quase impossível pensar em vida independente para os filhos com deficiência intelectual. Não é o que acontece com a economista Flávia Poppe, a biblioteconomista Ana Maranhão e a administradora Monica Mota, que querem que os filhos tenham moradia própria e independente. Inspiradas em experiências no Reino Unido, criaram o Instituto JNG (iniciais dos filhos João, Nicolas e Gabriella) com a meta de discutir e desenvolver um projeto piloto de moradia independente para jovens com deficiências intelectuais, como seus filhos. "As famílias e a sociedade falam em inclusão na escola, no trabalho, mas se esquecem da moradia. Talvez por não acreditarem que seja possível. Mas é possível, basta acreditar e dar meios", afirma Ana Maranhão, mãe de João, 19.

Superproteção – Autista, João é filho único. "Como vai ser quando não estivermos mais aqui? Quem vai cuidar dele? É preciso construir alternativas saudáveis para que eles vivam bem após a morte de seus responsáveis". Por falta de informações e de uma rede de acolhimento, os pais tendem a superproteger os filhos com deficiência intelectual, tratando-os como crianças mesmo já adultos. "É erro. Confundem os limites entre proteger e impedir que seus filhos se desenvolvam", diz Flávia, que preside o Instituto JNG, que será inaugurado na terça-feira, no Rio. Segundo a economista, é preciso criar um modelo de moradia e de assistência que se adapte à realidade do País. No Brasil existem 2.611.536 pessoas com deficiência mental/intelectual, 1,5% da população, segundo o IBGE.