Motivação de aluno pode vencer barreira social, afirma estudo
Não parece haver dúvidas de que jovens motivados podem ter melhores resultados na escola. Mas um estudo com informações do Pisa, a avaliação internacional de aprendizagem, indica que alunos com grau mais elevado de boas atitudes e motivações podem superar barreiras socioeconômicas.
Nas estatísticas educacionais, o nível socioeconômico dos alunos é uma das variáveis mais influentes no sucesso educacional.
Entretanto, ao analisar resultados do Pisa 2015, a consultoria McKinsey concluiu que alunos mais pobres – mas com alto índice de motivação – alcançam resultados superiores a estudantes de nível socioeconômico mais alto, mas com motivação considerada baixa. Pelo menos em ciências, área analisada.
Assim, para alunos que frequentam escolas de baixo desempenho, "uma mentalidade de motivação bem calibrada equivale a saltar para uma condição socioeconômica mais elevada", diz o estudo.
Os alunos brasileiros considerados bem motivados têm nota 18% superior aos menos motivados, segundo o relatório. O comportamento é similar em outras regiões do mundo. Para a América Latina, no geral, a diferença é de 14%.
Ao separar os alunos em quatro níveis socioeconômicos, o estudo mostrou que – no grupo dos mais pobres – os estudantes mais motivados conseguiram média de 400 pontos em ciências, ou 51 pontos a mais do que o obtido pelos menos motivados do mesmo perfil.
A distância de pontuação equivale, segundo a escala do Pisa, a mais de um ano de aprendizagem. Essa média é também superior à obtida por estudante do nível socioeconômico mais elevado, mas com pouca motivação (378 pontos). Já alunos ricos com muita motivação têm média de 434.
Cruzamentos
Essa análise foi realizada apenas em ciências (foco do Pisa 2015) e em escolas com desempenho considerado baixo. Elas concentram a maioria dos estudantes do Brasil e da América Latina.
O estudo cruzou informações do questionário respondido por alunos e professores na realização do Pisa com o desempenho na prova. Além de analisar o perfil socioeconômico dos estudantes (com informações como escolaridade e bens dos pais), foram consideradas questões que tentam entender a mentalidade deles.
Um conjunto de questões indica a concordância com relação a afirmações como "trabalhar nas tarefas até que tudo esteja perfeito" e "fazer mais do que o esperado". O Pisa pedia aos alunos que avaliassem a motivação de estudantes hipotéticos.
Quanto maior a concordância com as afirmações, mais motivados foram considerados os estudantes.
"O impacto da motivação foi uma surpresa positiva, principalmente porque mostra como isso pode ser um fator que supera desigualdades socioeconômicas", diz Patricia Ellen, da área de setor público da Mckinsey. Para ela, essas "evidências científicas" podem ser um aliado no debate educacional e no desenho de políticas públicas.
Nos últimos anos, a atenção a competências não cognitivas tem ganhado força após evidências de que características de atitude podem impactar no aprendizado.
Para o professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, essas conclusões da pesquisa indicam não apenas o perfil de comportamento, mas têm relação com o que ocorre na escola.
"A escola não consegue controlar todas as condições subjetivas dos alunos, mas há alguns aspectos que podem influenciar predisposições", diz. "Depende muito do professor incentivar o aluno a não desistir, não dar sinais negativos quando ele erra."
Os dados revelam que apenas 42% dos alunos de baixa condição socioeconômica têm boa motivação. No perfil socioeconômico mais alto, são 72% dos alunos. Alavarse afirma que as condições favorecem as dificuldades.
"Escolas com alunos mais pobres têm em geral estudantes com trajetórias escolares de pouco sucesso, professores menos estáveis."
O mesmo estudo comparou outras dimensões, concluindo que o número de horas de aulas por dia é relevante para o desempenho. Há uma distância de 23 pontos no Pisa entre alunos que têm de 4 a 4,5 horas de aulas por dia e os que têm 5 a 5,5 horas.
Alunos que tiveram acesso à educação infantil na América Latina também têm melhores resultados. Sobre tecnologia, o projetor e o computador –utilizados pelo professor– são os dispositivos mais relevantes na comparação, por exemplo, com tablets ou lousa eletrônica.