Não é só renda: Educação tem mais impacto no acesso à cultura
Uma pesquisa conseguiu provar o que até então era só discurso de quem acreditava no poder da Educação: ela é, de fato, determinante para o acesso à cultura. “Quanto maior a escolaridade, mais as pessoas vão participar de atividades culturais”, diz o relatório de Cultura nas Capitais, levantamento realizado pela empresa JLeiva Cultura & Esporte.
A pesquisa divulgada na manhã desta terça-feira (24/07) ouviu mais de 10 mil pessoas em 12 capitais brasileiras: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Luís e São Paulo.
Os entrevistados foram perguntados sobre quais atividades culturais praticaram no último ano. Em dez dos 12 itens, o número de pessoas de Ensino Superior que responderam afirmativamente sobre as atividades era pelo menos o dobro da quantidade de entrevistados que também frequentava, mas havia concluído apenas o Ensino Fundamental.
O oposto também vale: quanto menos escolaridade a pessoa tem, maiores são as chances de ela nunca ter participado de atividades culturais. Cerca de metade dos entrevistados que estudaram até o Ensino Fundamental disseram que nunca foram a museus, teatros, espetáculos de dança ou bibliotecas na vida. “Mesmo em atividades mais populares, como cinemas ou shows musicais, o índice de exclusão daqueles que não concluíram a Educação Básica é cerca de dez vezes superior em relação a dos que possuem formação em alguma faculdade”, diz a pesquisa.
Como os entrevistados podiam marcar quantas atividades quisessem, a pesquisa também mostrou que, quanto maior o nível de escolaridade, mais variado também é o leque de opções culturais a que o indivíduo tem acesso. Ou seja: ao estudar, o indivíduo é encorajado a consumir (e de fato consome) cultura de maneiras diferentes.
Escolaridade x renda
Quando comparadas as classes socioeconômicas dentro de um mesmo nível de escolaridade, os que têm mais renda possuem sempre acesso maior. O relatório indica que “no caso de concertos, museus e teatros, o percentual é quatro vezes maior na classe A do que nas classes D/E”.
Apesar de haver uma forte relação entre consumo de cultura e renda (quanto mais alta a classe, maior o nível de frequência das pessoas em todas as manifestações culturais), podemos ver a escolaridade como um fator determinante para esse acesso. Muitas vezes, mais determinante que a classe socioeconômica. Ou seja: a Educação consegue transpor uma barreira que a renda, sozinha, não consegue. Veja no gráfico abaixo:
Pelo gráfico, percebe-se que pessoas de classes média e baixa (C, D ou E) que concluíram o Ensino Superior indicaram ler mais livros e ir mais ao cinema do que as pessoas de classes A e B, que só estudaram até o Ensino Fundamental ou Ensino Médio. E a tendência se mantém também na frequência a museus e teatros, atividades consideradas mais caras, que poderiam afastar as classes mais baixas. “Apesar de a renda maior facilitar o acesso, a baixa escolaridade continua afastando as pessoas das atividades culturais”, apontam os pesquisadores.
Também nota-se que o acesso ao Ensino Superior é crucial para um salto de visitas a locais como museus e teatros, em todas as classes sociais, mas principalmente para as classes D e E, chegando a uma diferença de até 37% a mais de frequentantes com relação a pessoas que só concluíram o Ensino Médio dessas mesmas classes.
Profissionais da Educação acessam mais produtos culturais
Outra descoberta da pesquisa foi de que as pessoas que disseram trabalhar com Educação (ou seja, professores, como você), em média, consomem mais cultura do que os demais. O único produto em que essa tendência não se mostrou verdadeira foram jogos eletrônicos.