Nunca é tarde: Cresce número de crianças e jovens de 8 anos ou mais adotados em MG
Quando se casaram, em Betim, na região metropolitana de BH, dez anos atrás, o empreendedor Thiago Meireles, de 38 anos, e a assistente social Isabelle Marques, 37, tinham um sonho: ter um filho biológico e outro adotivo. Mas quiseram o destino e o amor por crianças que esse plano fosse alterado e, em sete anos, o casal tivesse cinco filhos, todos adotivos. Ao contrário da grande maioria dos adotantes, Thiago e Isabelle encontraram em Ketlen, então com 7 anos, André, 9, Wallace, 12, Naiara, 17, e Flávio, com 13, o amor que buscavam.
Adoções de crianças e adolescentes de 8 anos ou mais ainda são minoria no Brasil e em Minas. No entanto, no mês em que é celebrado o Dia Nacional da Adoção – 9 de novembro –, um dado do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) é motivo de esperança para as 5.049 crianças e adolescentes que esperam por uma família no país. Desde 2022 tem havido um aumento no número de jovens dessa faixa etária que são adotados.
Dados do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) mostram que, no Brasil, o número do que muitos chamam de “adoções tardias” cresceu 22,65%, passando de 843 em 2022 para 1.034 em 2023. Minas Gerais segue essa tendência. Em 2022, dos 483 adotados no Estado, 67 tinham 8 anos ou mais. No ano seguinte, foram 598 adotados, sendo 110 nessa faixa etária, alta de 71.8%. Neste ano, de janeiro a outubro, dos 339 adotados, 63 estão no perfil.
“Era um sonho mesmo do meu marido, de já poder brincar, sair junto, de ter os filhos como esses parceirinhos para fazer coisas juntos, de descobrir programas em comum, de criar memórias, de poder fazer coisas juntos. Adotamos crianças e adolescentes, com quem nós conseguimos criar um vínculo muito forte e muito rápido, para poder já desfrutar dessa parceria”, explica Isabelle.
A jornada de adoções da assistente social e do marido começou em 2017, quando, após procurar a Vara da Infância e apresentar o perfil que buscavam, conheceram de uma só vez Ketlen, André e Wallace, que hoje têm, respectivamente, 15, 17 e 19 anos. Em 2019, o casal adotou Naiara, hoje com 22 anos, e dois anos depois, Flávio, que agora tem 16. “Com cada um foi uma história. É um amor que nunca vivi antes, são realmente meus filhos, meus lindos filhos”, comemora Isabelle.
Incentivo
Juíza de direito da infância e juventude do Fórum Nacional da Infância e Juventude (Foninj), Julianne Freire Marques explica que o aumento de adoções tardias se justifica pela criação de programas de incentivo pelas Varas da Infância e Juventude de todo o país. “Além disso, nos cursos obrigatórios para os adotantes, temos palestras para que eles entendam o perfil de crianças que temos no cadastro aptas a serem adotadas”, lembra.
Um dos exemplos desses programas, citado pelo juiz da 1ª Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte José Honório, é o A.dot, que, como forma de aproximar os jovens de possíveis pais, usa vídeos gravados pelas crianças e pelos adolescentes em que eles contam suas histórias para apresentá-las aos adotantes.
“Ainda existem muitas crianças acima de 10 anos aptas à adoção. O A.dot permite um melhor conhecimento por parte dos que estão habilitados sobre quem pode ser adotado. Com ele, o Judiciário pode dar mais visibilidade a quem pode ser adotado”, afirma.
Ferramenta diminui espera : “busca ativa” apresenta novos perfis a adotantes
Criada em 2022, a ferramenta de Busca Ativa, segundo o juiz da 1ª Vara Cível da Infância e Juventude de Belo Horizonte José Honório, ajudou a levantar os números de adoções tardias e a diminuir a espera. Desde que passou a funcionar até o último dia 5 de novembro, 425 crianças com 10 anos ou mais foram adotadas por intermédio da ferramenta no Brasil, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em Minas, foram 19. Somadas todas as faixas etárias, 931 crianças foram ajudadas no Brasil, sendo 50 delas em Minas.
A Busca Ativa tem como função principal aproximar pais interessados em adotar, mas que não encontraram crianças com o perfil pretendido, a crianças que estão na fila de adoção. De acordo com o CNJ, um técnico da Vara da Infância que acompanha o adotante procura no cadastro da instituição perfis parecidos com os buscados pelos adotantes, que têm a opção de escolher um deles.
“O sistema conseguiu diminuir a espera por adoção e aproximar o caminho entre as crianças e os adotantes. Dessa forma, mesmo quem não estava no perfil inicial dos pretendentes pode ter uma chance”, explicou Honório.
Lei Federal
Desde o dia 19 de setembro, a Lei Federal 14.979 exige que os juízes consultem o SNA para ter acesso tanto às informações de crianças e adolescentes quanto às de pessoas ou casais habilitados para a adoção. O sistema tem alertas e notificações aos integrantes do Judiciário, que permitem que eles tenham conhecimento de qualquer atualização dos processos, contribuindo para a resolução mais rápida das ações de adoção.
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