O perigo invisível no prato dos adolescentes: telas, fast food e o alerta de um nutricionista

Veículo: A Crítica Online - MS
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Em um mundo onde o celular é extensão do corpo e a comida ultraprocessada ocupa o espaço que antes era das refeições caseiras, os adolescentes de hoje estão caminhando em direção a um futuro repleto de doenças crônicas. Quem faz o alerta é o nutricionista Emerson Duarte, que, no Dia da Alimentação (15 de outubro), chama atenção para o perigoso estilo de vida adotado pelos jovens da atual geração.

Combinando sedentarismo, alimentação rica em açúcar e gordura, e poucas atividades físicas, a adolescência parece ter mudado drasticamente nas últimas décadas. “As escolhas alimentares que os adolescentes fazem hoje podem parecer inofensivas, mas o impacto a longo prazo é assustador. Estamos vendo um aumento significativo de doenças como obesidade, diabetes e até câncer em uma faixa etária que, historicamente, era considerada saudável”, afirma Duarte.

O novo perfil dos jovens brasileiros: telas e fast food – Não é apenas uma impressão generalizada de pais e professores. Dados recentes de um estudo realizado pela UFMG e Unifesp, que entrevistou mais de 121 mil adolescentes entre 13 e 17 anos, mostram que 81,3% desses jovens apresentam ao menos dois fatores de risco à saúde. O levantamento aponta que a falta de atividade física, o consumo irregular de frutas e vegetais, e o sedentarismo são comportamentos amplamente prevalentes entre eles.

Cerca de 54% dos adolescentes relataram ser sedentários e 58% não comem frutas e verduras de forma regular. Além disso, o consumo excessivo de guloseimas, refrigerantes e até álcool entre os mais jovens só piora o quadro. “O que estamos vendo é uma geração que troca o prato colorido por um combo de fast food. E os efeitos disso estão aparecendo mais cedo do que imaginávamos”, comenta Duarte.

Um estilo de vida que adoece – A mudança no comportamento alimentar e no estilo de vida dos adolescentes está profundamente ligada à tecnologia. O uso crescente de telas – seja para jogos, redes sociais ou entretenimento – está moldando um novo padrão de sedentarismo. O tempo que antes era gasto em atividades físicas e ao ar livre agora é preenchido por horas a fio em frente a celulares e computadores.

Emerson Duarte reforça que o impacto desse comportamento não se limita ao peso na balança. O risco de doenças crônicas, como diabetes tipo 2 e até câncer, está diretamente ligado à má alimentação e à falta de atividade física. “Antes, esses problemas eram típicos de adultos. Hoje, cada vez mais adolescentes chegam ao consultório já com quadro de pré-diabetes ou com sobrepeso, e isso é só o começo de uma trajetória perigosa”, alerta o nutricionista.

A batalha no prato: como melhorar os hábitos alimentares – O desafio, segundo Duarte, está em resgatar hábitos alimentares mais saudáveis para os jovens. A solução passa por medidas simples, mas eficazes: aumentar o consumo de frutas e verduras, beber mais água e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados. “Não precisamos de grandes revoluções. Pequenas mudanças, como trocar o refrigerante por suco natural ou substituir um lanche industrializado por uma fruta, já podem trazer benefícios enormes”, explica o nutricionista.

Outro ponto central para melhorar a saúde dos adolescentes é incentivar a prática de esportes ou, pelo menos, incluir mais atividades físicas na rotina. A recomendação é que os jovens pratiquem ao menos 30 minutos de exercícios diários, seja uma caminhada, um passeio de bicicleta ou mesmo esportes coletivos. No entanto, isso parece cada vez mais difícil em uma geração onde o tempo de tela domina.

O papel dos pais e da escola A responsabilidade de mudar esse quadro não é apenas dos adolescentes. Pais, educadores e até as políticas públicas de saúde precisam atuar em conjunto para criar um ambiente que promova melhores escolhas alimentares e um estilo de vida mais ativo. “O ambiente doméstico é essencial. Se os pais consomem fast food e são sedentários, dificilmente o jovem vai adotar hábitos diferentes”, diz Duarte.

Da mesma forma, as escolas podem desempenhar um papel fundamental ao oferecer opções mais saudáveis de alimentação, além de promover atividades físicas regulares e orientações sobre a importância da nutrição equilibrada. Esse apoio pode fazer toda a diferença no combate ao sedentarismo e à má alimentação.

O futuro em jogo – O alerta de Emerson Duarte, no Dia da Alimentação, é um lembrete urgente: o futuro da saúde dos adolescentes brasileiros está sendo moldado hoje. O comportamento atual pode parecer irrelevante a curto prazo, mas as consequências são profundas e duradouras. Se nada mudar, o sistema de saúde brasileiro enfrentará em breve uma nova epidemia – não de vírus, mas de doenças crônicas em uma população cada vez mais jovem.

Enquanto isso, o desafio continua: como convencer uma geração conectada a se desconectar das telas e prestar mais atenção ao que põe no prato? Duarte acredita que a solução começa com a conscientização, tanto dos jovens quanto de seus responsáveis. Afinal, a saúde de uma geração inteira está em jogo, e não há botão de “reset” quando se trata de prevenir doenças.

 

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