Pobreza prejudica desenvolvimento do cérebro das crianças, diz estudo

Veículo: Revista Veja - BR
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Já é sabido que a pobreza interfere em diversos aspectos da vida das pessoas, como saúde e educação. Agora, um novo estudo indica que a pobreza também prejudica o desenvolvimento cerebral das crianças, especialmente daquelas cujas mães apresentam baixo nível de escolaridade. A pesquisa, publicada na revista Developmental Science, ainda revelou que a atividade cerebral desses pequenos é mais fraca, tornando-os mais propensos a se distrair com facilidade, o que pode prejudicar o aprendizado.

Os pesquisadores acreditam que o resultado oferece uma possível justificativa do porque essa população tem dificuldade de atingir maior potencial de desenvolvimento e tende a permanecer na pobreza. “A cada ano, 250 milhões de crianças em países de baixa e média renda não atingem seu potencial. Pobreza e outras adversidades precoces afetam significativamente o desenvolvimento do cérebro, contribuindo para um ciclo vicioso de pobreza“, disse John Spencer, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, em comunicado

O estudo

A descoberta foi feita com base na análise de 42 crianças entre 4 meses e 4 anos de uma área rural da Índia, comparando os resultados com dados encontrados em crianças na mesma faixa etária que viviam no centro-oeste dos Estados Unidos. Para verificar a atividade cerebral, os pesquisadores utilizaram um dispositivo portátil de espectroscopia, que mede informações a nível molecular.

Com esse equipamento, a equipe investigou a memória de trabalho visual dos participantes. De acordo com Spencer, as pessoas utilizam a memória de trabalho cerca de 10 000 vezes por dia. Essa área do cérebro – responsável pela aprendizagem – começa a se desenvolver na primeira infância, sendo aprimorada gradativamente até a adolescência. “Sabemos que é um excelente marcador do desenvolvimento cognitivo inicial”, explicou Spencer.

Os pesquisadores realizaram alguns testes específicos de memória com as crianças. Antes da análise final, a equipe ainda considerou outros fatores, incluindo nível educacional dos pais, renda, religião, número de filhos na família e status econômico. Os resultados mostraram que, em comparação com os participantes americanos, as crianças indianas de famílias pobres e com baixa escolaridade materna mostraram atividade cerebral mais fraca. Isso significa que essas crianças não aprendem tão bem quanto poderiam.

Apesar disso, os pesquisadores acreditam que esse diagnóstico pode ser útil na luta para mudar esta realidade. “Embora o impacto das adversidades no desenvolvimento do cérebro possa aprisionar as crianças em um ciclo intergeracional de pobreza, [é possível aplicar] intervenções destinadas a estimular a saúde cerebral precoce antes que a adversidade possa se consolidar”, concluiu Spencer.