Professores gaúchos mostram que lugar de criança com deficiência é na escola

Veículo: MEC - BR
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A rotina de aulas começa com as crianças ao redor do varal de fotos que mostram as atividades daquele dia. “Ao olhar para a sequência das imagens, elas visualizam o que terão pela frente e vão se preparando e se acalmando”, explica Julhane Kalles, professora do Atendimento de Educação Especializado (AEE) da Escola Municipal de Educação Infantil Dr. Ruther Alberto von Mühlen, em Erechim, Rio Grande do Sul. Ela teve a ideia de trabalhar com as fotos depois que a escola recebeu uma aluna autista, de 4 anos, que não se comunica verbalmente.

As fotografias ajudam a menina a perceber e a se adaptar à realidade da escola e, ao mesmo tempo, permitem uma rotina atrativa para toda a turma. “Todos foram incluídos nesse projeto”, esclarece Julhane. Outras cinco crianças da escola apresentam deficiências e todas são incluídas na rotina regular da instituição após um plano de atendimento pedagógico definido com os professores e a família. “Nosso objetivo é diminuir barreiras para que as crianças tenham mais facilidade de inserção no ensino comum”, esclarece Julhane.

Desde 2009, a Secretaria de Educação de Erechim adota a perspectiva de educação inclusiva nas 15 escolas do município, de 101 mil habitantes. No total, 200 pessoas — crianças, jovens e adultos — com deficiência ou altas habilidades frequentam o ensino regular e, no contraturno, de duas a três vezes por semana, recebem atendimento especializado nas salas de recursos multifuncionais. A criação desses espaços em escolas públicas tem amparo do programa Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais do Ministério da Educação, que fornece equipamentos de informática, mobiliário, material pedagógico e de acessibilidade.

A Escola Municipal de Educação Infantil São Cristóvão, também em Erechim, adota as mesmas práticas para a inclusão escolar de quatro crianças com deficiência. Com o suporte e a prática pedagógica apropriados, a escola torna-se um ambiente acolhedor. Nas atividades em sala de aula ou nas brincadeiras da hora do intervalo, Ana Vitória de Godois, 4 anos, que tem paralisia nos membros inferiores, sente-se aceita e feliz. Tanto que todos os dias pede para ir à escola e às atividades do contraturno.

“Ela não deixa de fazer nada que as outras crianças fazem. Quando não está na cadeira de rodas, ela se arrasta para brincar no chão, no parquinho de areia e até no balanço”, conta a mãe, Nelci Ana. “A melhor escola é a inclusiva, onde ela pode interagir com todas as crianças, com deficiência ou não. Ela tem uma amiguinha, por exemplo, que tem síndrome de Down.”

Assessoramento — Professora de apoio ao processo ensino-aprendizagem, Josiane Schelski dá assessoramento a todos os professores da escola São Cristóvão e também às famílias dos alunos. Além de ficar atenta às necessidades específicas dos estudantes, com ou sem deficiência, e indicar especialistas para as famílias, ela propõe projetos pedagógicos e cursos de formação. “Este ano, vamos trabalhar com projeto de formação continuada de professores sobre as diretrizes curriculares nacionais e, com as crianças, continuar a explorar filmes, músicas e leituras para que percebam a importância de aprender a conviver com as diferenças”, afirma.

Além do suporte adequado dentro das escolas, as crianças com deficiência matriculadas na rede pública de Erechim têm assegurado o transporte escolar, da porta de casa à escola e no trajeto da volta. Nas salas de aulas, o professor titular conta ainda com o apoio de um segundo professor para ajudá-lo no processo de qualificação do ensino. “Ele dá suporte tanto para o aluno com deficiência quanto para qualquer outro que apresente dúvida na sala de aula”, diz Maria Salete de Moura Torres, coordenadora da proposta de educação especial em Erechim.

Segundo ela, a maior dificuldade do processo de inclusão escolar tem relação com a eliminação das atitudes, os preconceitos que sempre levaram à segregação. “Por muito tempo, aceitou-se que as pessoas com deficiência ficassem fora da escola; é preciso mudar isso e perceber que todos nós aprendemos com as diferenças”, pondera a coordenadora. “Estar alinhado com a política nacional de inclusão escolar significa acreditar que é possível avançar não apenas nas matrículas de pessoas com deficiência, mas na qualidade da educação ofertada pelas escolas.”