Projeto promove saúde, acesso a direitos, acompanhamento escolar e suporte para famílias de crianças atípicas de favelas

Veículo: Jornal Nacional - BR
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Projeto acompanha famílias no Complexo do Alemão, conta com uma rede de médicos voluntários e tem apoio de psicólogos para crianças e mães

O Jornal Nacional desta quinta-feira (9) apresentou o resultado extraordinário do trabalho e da força de uma brasileira.

“Meu nome é Rafaela França, tenho 40 anos. No meio da pandemia vejo a Maria parar de desenvolver, vejo que tem algo de errado. Foi quando eu entrei online e contei minha história. Ela vem trazendo os sintomas do autismo regressivo. Eu saio da condição de ajudar a minha favela para pedir ajuda de quem puder compartilhar a vaquinha da Maria”, diz a ativista social no Complexo do Alemão.

A ajuda veio e Rafaela conseguiu arrecadar dinheiro para bancar o tratamento da Maria.

“E foi muito bonito porque as crianças batiam no portão até com moeda. Então deu para dois anos de plano de saúde, um ano de terapias intensivas, deu para as consultas que eram particulares, porque infelizmente estamos na fila do SUS até hoje”, diz Rafaela.

Depois da chuva de solidariedade que caiu sobre a vida da Rafaela por conta da mobilização dos moradores do Complexo do Alemão, ela tomou uma decisão.

“A minha decisão é que nenhuma criança de favela mais ia precisar chorar o que a minha família chorou para ter acesso a dignidade e direitos. Nós criamos o NEEM, que é o Núcleo de Estimulação Estrela de Maria, que nós trabalhamos com promoção de saúde, acesso a direitos, acompanhamento escolar e todo o suporte para famílias de crianças atípicas de favela”.

“A Isis tem 7 anos, tem paralisia cerebral e aos 11 meses ela iniciou o quadro de epilepsia. Foi aí que eu conheci a Rafa, e através dela a Isis iniciou com o uso de canabidiol. Ela tinha de seis a oito crises por hora. Hoje está fazendo oito meses sem crises”, explica Janaína Gomes de Souza, mãe da Ísis.

Desde o ano passado, o uso de medicamentos à base de canabidiol está autorizado no Brasil.

“A Laura não tinha o desenvolvimento motor, a fala, ela agora está andando com mais firmeza, ela está cantando”, responde a mãe da Laura, Michele Santos, ao ser questionada sobre como o NEEM mudou na evolução do quadro de saúde de sua filha.

O projeto da Rafaela conta com a ajuda de uma rede de médicos e dentistas voluntários e tem o apoio de psicólogos para as crianças e para as mães. Ele atende a mais de 320 crianças, sendo 75% filhas de mães que criam os filhos sozinhas.

“Se a gente está bem, a gente consegue fazer o melhor pra dar pra eles, entendeu?”, afirma a mãe Thaiana Silva da Costa, mãe da Thannyfa.

“A favela em si nos limita muito mais porque tem a questão de as pessoas não quererem adentrar dentro das comunidades faz com que torna-se mais inacessível ainda médicos, o básico”, desabafa Talita dos Santos Amaral, mãe da Ângela.

A Rafaela levou dignidade para essas mães.

“Além de ser mãe da Maria, ela é mãe de todas as crianças porque ela vive o seu problema, a sua dor. A Rafaela eu acho que é um anjo na nossa vida”, conta Cinthia Barbosa, mãe do Guilherme.

“Hoje eu posso te falar que eu estou mudando o mundo dando acesso a direitos e a promoção de saúde. Porque sem saúde ninguém consegue se movimentar nessa vida. E é com muito orgulho que eu estou fazendo isso pelas minhas favelas, que eu posso chamar de minhas”, conclui Rafaela.

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