Quando a infância perde o jogo

Veículo: Correio Braziliense - DF
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Em série de reportagens, o Correio Braziliense denuncia o crime escondido por promessas de uma carreira de sucesso no futebol. Abusos, pedofilia e redes de exploração sexual envolvem crianças e adolescentes que, para ficarem nos gramados, acabaram violentados. São histórias como a de Francisco que, aos 12 anos, foi levado por um vizinho para jogar em uma escolinha de futebol próxima de casa, na periferia de Campo Grande. O homem que alimentava as esperanças do garoto era o mesmo que o despia, manipulava seu corpo, pedia que ele retribuísse os carinhos, por mais que Francisco tentasse demonstrar que não gostava daquela situação. Os abusos pioraram depois que o treinador chamou mais dois amigos, também instrutores de futebol, para participar das "brincadeiras".

Rede de abuso –Pelo menos 10 garotos confirmaram as violações, entre eles Francisco, hoje com 19 anos. Os relatos levaram a delegada responsável pelo caso, Regina Rodrigues, aos outros dois treinadores, Paulo César da Costa, indiciado, e Antonio Alves de Oliveira, foragido. "A partir de uma prisão, acabamos descobrindo uma rede de abuso sexual, que agia nos bairros distantes e carentes da capital, utilizando o expediente do futebol para atrair esses garotos, prometendo que os levariam para grandes clubes", afirma Regina.

Rede de exploração sexual – Em Caratinga (MG), a Polícia Civil identificou uma rede de exploração sexual. Os encontros aconteciam nos mais variados lugares, desde o motel da cidade a funerária, onde um dos abusadores trabalhava. Em troca, os garotos ganhavam camisetas de futebol, chuteiras, cordões e, às vezes, quantias em dinheiro – nada além de R$ 50. Maguila, o agente, no entanto, recebia quantias mais vultosas. Chegou, inclusive, a negociar a venda de Paulo, um dos aspirantes a jogador, por R$ 5 mil para Celso Pereira, professor universitário do município de Santa Bárbara, portador do vírus da Aids. O dinheiro pago garantiria a exclusividade sobre o menino, mas, por causa de um briga com Celso, Maguila não fechou o negócio.